quinta-feira, 16 de outubro de 2014

MOTE EM DECASSÍLABOS: "FUI A DOR DE CABEÇA DOS MEU PAIS/QUANDO EU ERA MENINO NO SERTÃO"

(Benildo Nery x Pedro Pedreira)

 

BN
Eu saia de casa sem dizer
Para onde danado que eu ia
O que era mundo e fundo eu batia
Sem diabos nenhum para fazer
No retorno mãe ia me bater
E pedia ao meu pai o cinturão
Quando eu via corria pro oitão
E os dois coitados correndo atrás
“Fui a dor de cabeça dos meus pais
Quando eu era menino no sertão.”

PP
Eu ficava em casa o dia inteiro
No errado eu tinha competência
Dos meus pais eu roubava a paciência
E agindo igualmente um desordeiro
Eu brechava a irmã lá no banheiro
Quando ela fazia obrigação
Quando ela apanhava o sabão
Era a parte que eu gostava mais
“Fui a dor de cabeça dos meus pais
Quando eu era menino no sertão.”

BN
Eu subia no pé de goiabeira
E tirava as frutas bem verdinhas
Derrubava as laranjas bem novinhas
E cortava os pés de bananeira
Lá na roça eu saía na carreira
Pinotando no meio da plantação
Destruía a lavoura de feijão,
Milho, fava e dos outros cereais
“Fui a dor de cabeça dos meus pais
Quando eu era menino no sertão.”

PP
Eu amava fazer o que é errado
Pois achava que era tudo certo
Quando eu via uma menina por perto
Eu agia como fosse um tarado
Eu sentava pertinho do seu lado
E ali já ia passando a mão
Pela frente ela reclamava então
Eu passava a mãozinha por detrás
“Fui a dor de cabeça dos meus pais
Quando eu era menino no sertão.”

BN
Quando mãe dizia pra eu entrar
Eu teimoso demais então saia
Devagar pra andar mais eu corria
Com firula tentando me amostrar
Quando pai estava a palestrar
Eu ficava entra e sai sem precisão
Me metendo em sua falação
Com os compadres queimando seu cartaz
“Fui a dor de cabeça dos meus pais
Quando eu era menino no sertão.”

PP
Quando alguém amarrava um animal
Uma cabra, uma vaca ou um jumento
Eu mostrava como era um nojento
Um bandido de índole marginal
Eu botava em prática o lado mal
E agia feito o filho do cão
Eu cortava a corda com um facão
E espantava ele para os matagais
“Fui a dor de cabeça dos meus pais
Quando eu era menino no sertão.”

BN
Eu contava apenas quatro anos
E os sinais de ruindade eu já dava
Tudo quanto de mal eu aprontava
Sem ouvir a ninguém pai, mãe nem manos
Acabar, destruir esses meus planos
Procurava pôr sempre em ação
Tudo quanto era bicho em minha mão
Era assim maltratado por demais
“Fui a dor de cabeça dos meus pais
Quando eu era menino no sertão.”

PP
Pra igreja nunquinha que ia
Pois achava um troço muito chato
Quando tinha um terço lá no mato
Eu ia com prazer e alegria
Só que não era reza que eu queria
Eu queria era mesmo diversão
Eu zombava de Chico, de João
Da Beata Zefinha e de Seu Braz
“Fui a dor de cabeça dos meus pais
Quando eu era menino no sertão.”

BN
Procissão quando tinha eu seguia
Bem na frente pertinho do andor
Inquieto, total perturbador
Rindo alto, falando baixaria
Na igreja invadia a sacristia
E espalhava a hóstia pelo chão
Eu xingava o pobre do sacristão
Eu era bem pior que o Satanás
“Fui a dor de cabeça dos meus pais
Quando eu era menino no sertão.”

PP
Quando eu um enterro acompanhava
Eram risos, conversas, cantoria
Gargalhadas, zoeira em demasia
Enquanto lá num canto alguém chorava
Minha mãe me olhando reclamava
Eu corria pro meio da multidão
No cemitério eu chutava o portão
Cova em cova ria dos ancestrais
“Fui a dor de cabeça dos meus pais
Quando eu era menino no sertão.”
 




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