sábado, 25 de abril de 2015

VOA LIVRE PASSARINHO/QUE A GAIOLA FOI QUEBRADA

(Juca Santos)

 

Ouvir um pássaro cantando

No primor da natureza,

Em uma gaiola presa

Pra mim está reclamando.

Vou logo me aproximando

Por que sou bom camarada

Deixo a porta escancarada

Me afasto bem de mansinho

Voa livre passarinho

Que a gaiola foi quebrada.


Se for doméstico eu aceito

Mas se for silvestre não

Pois esta situação

Para mim não é direito

Num movimento perfeito

Deixo a cela destrancada

Pode pegar a estrada

Siga em frente seu caminho

Voa livre passarinho

Que a gaiola foi quebrada.


Se na vida ou no amor

Alguém vive enclausurado

Não quero mais do meu lado

Não posso causar terror

Fica ao inteiro dispor

Pra bater em retirada

Porque a pessoa amada

Não pode sofrer no ninho

Voa livre passarinho

Que a gaiola foi quebrada.


Na arte de educar

Hoje em dia é diferente

Não é como antigamente

O jeito de ensinar

É preciso conquistar

Com aula bem preparada

Que a mente desmotivada

Deixa tudo em desalinho

Voa livre passarinho

Que a gaiola foi quebrada.


Se o aluno não aprende

Diz, culpado é o professor

Sai gritando o diretor

O pai não o repreende

Mesmo errado lhe defende

De forma desenfreada

Mas, a vida de virada

Ensina sem ter carinho

Voa livre passarinho

Que a gaiola foi quebrada.


No dia da eleição

Tem barganha pelo voto

Não tem mais curral eu noto

Que cerque a corrupção

O eleitor cidadão

De consciência comprada

Porém não entrega nada

Porque vai votar sozinho

Voa livre passarinho

Que a gaiola foi quebrada.


Hoje tudo é opção

O jovem pode escolher

Não pode repreender

Quase ninguém usa não

Pra cada situação

Tem uma lei aprovada

Que acaba não dando nada

Pra quem tiver um padrinho

Voa livre passarinho

Que a gaiola foi quebrada.


Hoje não há quem defenda

Moral decência e vergonha

Também falta quem proponha

Um projeto ou emenda

Pra garantir que a renda

Seja melhor retalhada

E a nação avaliada

Sem resultado mesquinho

Voa livre passarinho

Que a gaiola foi quebrada.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

DESPREZADO

(Benildo Nery)

Por que diabos que você

Achou de ter me achado?

Meu coração tão trancado

Por que você destrancou?

Diz-me por que que entrou

Se não queria ficar?

Depois de me bagunçar

Diz-me por que foi embora?

E essa bagunça agora

Quem é que vai arrumar?


Por que diabos que você

Colocou-me lá num trono?

E depois com abandono

Pôs-se então a me tratar?

Queria me derrubar?

Era isso? Fala! Diz!

Como posso ser feliz

Depois disso tudo? Fala!

Ou quer me ver numa vala

Feito um mendigo infeliz?


Por que a minha cabeça

Você jogou pro espaço

Deixando todo em pedaço

O meu resto que ficou?

Será que você pensou

Que eu sou de pedra será?

Onde o meu eu buscará

Forças pra se recompor?

Me responda! Por favor!

Quem que o ajudará?


Por que diabos que você

Ainda sai comentando

Toda se vangloriando

Dessa sua crueldade?

Por que tamanha maldade

Lançada a um só vivente?

Se eu for sobrevivente

Como lidar com as sequelas?

Como irei me curar delas

Sem me tornar um demente?


Por que diabos que você

Veio o meu sono tirar?

Não consigo relaxar

Não almoço e nem janto

Ver-me sofrendo assim tanto

Era o que queria é?

No teu amor botei fé

Hoje eu estou lascado

Completamente arrasado

Por tua culpa "mulé"!

sábado, 18 de abril de 2015

O ERRADO QUE DEU CERTO

(Benildo Nery)



Saí em toda carreira
Quando ela me agarrou
E minha boca beijou
Mas que diaba mais ligeira!
Não me barrou catingueira,
Facheiro nem xique-xique
Fui inteiriço num pique
Em meio de pau e toco
Pense num grande sufoco!
Quase que tive um chilique.

Lá longe ainda se ouvia
Toda risadagem dela
Eu acho que aquela “fela”
Me matar é o que queria
Porque senão não teria
Aprontado isso comigo
Me pôs num grande perigo
Frente a minha reação
Pobre do meu coração
Quase ficou sem abrigo.

Ainda saiu contando
Para toda a vizinhança
Dizendo:  pobre criança
Fugiu todo se cagando
Quer saber? Estou achando
Que ele não gosta da fruta
Se gosta porque reluta
Quando alguém vai lhe beijar?
Ou ele está a pensar
Que o meu beijo tem cicuta!?

Me dá pena... pobrezinho
Eu rio só de lembrar
Quando é que vai desasnar?
Fugir desse seu mundinho
Danado tão bonitinho
Mas é mole até demais
Seus atos não são iguais
Aos dos cabras da sua idade
Sua masculinidade
Não está entre as normais.”

Sobre o assunto namorar
Sempre tive outra visão
Entregar meu coração
A alguém só quando amar
Nunca pensei em ficar
Pra dizer que estou ficando
Mas quando fui escutando
Meu nome feito chacota
Mostrei praquela marmota
Com quem que estava lidando.

Tomei banho bem tomado
Roupa e sapato botei,
Pus perfume, me escovei
E saí todo alinhado
Com meu destino traçado
“Forró do Pantaleão”
O melhor da região
Que ela muito frequentava
Com todos homens dançava
Sua maior diversão.

Confesso quando cheguei
Estava muito acanhado
Não estava acostumado
Ali nunca frequentei
Mas como um plano tracei
Comprei logo a minha entrada
Quando entrei a danada
Já estava a se requebrar
Pouco ia se sentar
Jamais ficava cansada.

Pedi um refrigerante
Um copinho fui tomando
Fiquei só lhe observando
De forma bem provocante
Foi quando a meliante
Pro meu lado dirigiu-se
Se aproximou e disse:
Posso aqui me sentar
Ou você quer ir dançar?
Vou ali volto já! Visse?
  
Fiquei comigo a pensar:
Peste mais oferecida
Ela que vem e convida
O cabra para dançar!
Mas hoje ela vai pagar
A mim todo o atrasado!
Quando virei para o lado
Me esperando ela estava
Com o dedinho me chamava
Saí com ela agarrado.

Ela era dançarina
De forró experiente
E eu ainda inocente
Não tinha dançar por sina
Quando tocou Carolina
Senti o seu acochar
No meu ouvindo o fungar
Meu coração fez tum-tum
Lhe abracei e fiz...  rum!
Lá no salão a rodar.

Falou cá no meu ouvido:
“Eu nunca te vi aqui
Parece nem ser daqui”
E eu bancando o atrevido:
Não tenho me divertido
Resolvi sair então
Ficar em casa dá não
Pensando em te encontrar
Resolvi então entrar
Aqui no Pantaleão

Ai comecei botar
O meu plano em ação
Aquela ocasião
Não pude desperdiçar
Pensei: quando o som parar
E pintar o intervalo
A puxarei num embalo
Para um canto reservado
Farei um surrupiado
Tal qual como faz um galo.
  
E assim aconteceu
Quando o forró parou
Um pouco a gente sentou
Umas geladas bebeu
Eu nem sei como desceu
Aquela coisa amarguenta
Vinte e cinco e cinquenta
A minha conta paguei
Dali com ela arranquei
Seguindo o rumo da venta.

Paramos numa casinha
Uma espécie de galpão
Tum-tum-tum meu coração
E ela toda calminha
Pensei: essa safadinha
Vai querer me agarrar
É melhor eu começar
Antes de passar por mole
Dei bem seco o quinto gole
Comecei prosa puxar.

Papo vai e papo vem
Dela fui me aproximando
Cima a baixo lhe olhando
Ali só nós mais ninguém
Fiz dela minha refém
Com um arrocho da “bixiga”
Que parecia uma briga
Ação de grande perigo
Entre o maior inimigo
E a maior inimiga.

Seu pescoço eu mordi
Mordi a sua orelha
Tudo que me deu na telha
No meu plano investi
De nadinha desisti
Bem gostoso lhe beijei
Sua roupa eu tirei
Ali naquele momento
Num ato bem violento
Da danada me vinguei.

Com a “briga” terminada
Deu-se o caso encerrado
Cada um para o seu lado
Cada qual sua morada
As horas já avançada
O dia amanhecendo
Eu tão cansado só vendo
Tomei banho e dormi
O novo dia só vi
Quando estava entardecendo.

Aí me veio a lembrança
Daquela noite passada
Noite em que aquela danada
Viu quem era a criança
Me contou a vizinhança
Que o seu papo mudou
Que ela muito gostou
Da minha pegada “impa”
Que tinha sido supimpa
Que por mim se apaixonou.

Confesso também que eu
Acordei pensado nela
Do amor que fiz com ela
Quando fui todinho seu
E o jeito que ela se deu
Em mim ficou registrado
Na minha mente, gravado
Como um filme sem fim
Meu coração disse a mim:
Eu estou apaixonado!

Outros encontros tivemos
Conversamos muito e só
Inclusive no forró
Outras vezes nós dancemos
Mas acho...  já foi, perdemos
A chance que nos foi dada
Começou de forma errada
Toda a nossa relação
E sem ter motivação
Parecia encerrada.
  
Tempo passou, fui embora
Voltei com mais de dez anos
Casar não pus nos planos
Não quis ter uma senhora
O tempo que estive fora
Não fiquei com mais ninguém
Ela não ficou também
Parecia me esperar
Foi difícil evitar
O reencontro fez bem.

Um oi depois um abraço
Nos demos um certo dia
Pra mim foi grande alegria
Tê-la de novo em meu braço
Deu pra sentir cada traço
Que tem o seu corpo belo
Aí percebi o elo
Que quase nós destruímos
Daí então construímos
De sonho o nosso castelo.

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