terça-feira, 27 de maio de 2014

EDUCADO ÀS ANTIGAS

(Benildo Nery)

 

Fui um garoto criado
Sem muita papagaiage
E digo sem papulage
Fui muito bem educado
Meu pai num era istudado
Mai soube mi assisti
E na hora de agi
Num ato faio que eu fizesse
Agia sem tê istresse
Sabia mi corrigi.

Num tinha essas frescurage
De painho nem mainha
Muito meno essas coisinha
De denguinho e de mimage
Presentinho, adulage
Nem sabia si ixistia
Mas eu li obedecia
Bastava ele ispiá
Sem precisá nem falá
Sim ô não eu intendia.

Quando tava os aduto
Numa sala conversano
Si eu ali fosse passano
Era mermo que um insurto
Ele brigava com o vurto
Si passasse pelo mei
E eu por já tê recei
Num cometia a bobage
Buscava outra passage
Levá carão era fei.

Ele num admitia
Vê pirraio si meteno
Onde num tava cabeno
Por isso sempre dizia:
“Num cometa a osadia
Di dirmenti gente grande
Sinão apanha no frande
Pra aprendê respeitá
Tombém aprendê andá
Seja lá por donde ande!”

A carença num impediu
Di mi educá assim
Num sô um adulto rim
Fiz o que ele mi pediu
Seu jeito contribuiu
Pra minha vida atuá
Meu pai hoje um ancestrá
De mim tombém dos meus fio
Mi insinô andá nos trio
Vivê de foima legá.

Mermo sem tê istudado
Consigui uma casinha
É bastante simprizinha
Mai nela tô abrigado
Umas cabeças de gado
E otros bichinhos mai
Tanto na frente e atrai
Di casa tenho uma roça
um jegue e uma carroça
Tenho o que mi sastifai.

Mai hoje é minoria
Arguém com esse cartai
Iguá a eu  e o meu pai
Num se acha todo dia
Vemo sim a anaiquia
Tumano conta do mundo
Um magote de imundo
Que tem de tudo na mão
Mai prefere sê ladrão
Um bando de vagabundo.

Os pai li dão um bucado
De coisa que inté nem pode
Pra num levá um sacode
Fai tudo quanto é agrado
Dá inté pena dos coitado
Mai num posso fazê nada
Num vô cometê burrada
Mi invorvê com coisa aleia
Aprendi num levá peia
Sô pessoa educada.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

DESCOMPLICADO

(Pedro Pedreira)


De noite eu dou bom dia
Rezo antes de acordar
Só depois de me deitar
Lavo o rosto na bacia
Choro de muita alegria
Menos um dia chegado
E andando saio voado
Pra casa com a galera
E o meu trabalho só zera
Com o dia iniciado.

Sou igual a todo mundo
Gosto do que ninguém gosta
Não dou valor a aposta
Ajo feito vagabundo
Não paro um só segundo
De buscar o que fazer
E por não sentir prazer
Trabalhar não me faz bem
Mas lembrei que ali tem
Um emprego para ver.

Água eu só gosto quente
Café eu só tomo frio
E para rachar o trio
Sopa eu peço que requente
Nisso sou incompetente
Almoço só à noitinha
Café eu tomo à tardinha
De manhã tomo gelada
Depois de festa acabada
Tomo uma cachacinha.

Só mergulho no chuveiro
Tomo banho no açude
E para esfregar o grude
Volto do rio ligeiro
Não fico o tempo inteiro
Pois água não aprecio
Bom mesmo é rolar macio
Lá na areia do mar
Ou então apreciar
Um bom banho no vazio.

Eu não gosto de namoro
E odeio casamento
Mais sou muito ciumento
Traição trato com couro
Se tiver cabelo louro
A de preto vou pegar
Mas ela não vou olhar
Fêmea é tudo diferente
Por isso vindo de frente
Deixo ela me agarrar.

A mentira é que eu
Sou muito descomplicado
Indeciso um bocado
Mas pelo capricho teu
Sei que ainda não viveu
Alguém diferente a mim
Ruim ou bom, bom ou ruim
Sei que isso vem ao caso
Represento o atraso
Tô certo não ser assim.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

MENININHAS

(Kynheo Ferreira)


Morenas, brancas garotas

Espero corpos pra mim

Nasci para amar as outras

Inventei meu mundo assim

Não quero apenas beijo

Impropriamente as desejo

Nisto fiz que nem Caim

Havia rato no queijo

Agora que eu as vejo

Sorrindo vem, sem ter fim.

ÚNICO

(Kynheo Ferreira)


Eu não sou capitalista

pois nunca tive dinheiro

um dia fui comunista

feito Antônio Conselheiro

admirando Zumbi

na política me envolvi

no movimento cresci

queria ser cangaceiro

não sou muito otimista

sou um pouco anarquista

e sou muito presepeiro.


sexta-feira, 16 de maio de 2014

CONVERSA DE CANDIDATO TABACUDO

(Benildo Nery)

Para ser um candidato
Tem que ter aptidão
Pré-requisitos listados
Na nossa legislação:
Saber ler e escrever
A justiça não dever
Ter uma filiação.

Também há os requisitos
Que até são legislados
Só que com um tal jeitinho
Todos eles são driblados:
Caixa dois e três montar
Monte de votos comprar
Com favores e agrados

Sendo assim é coisa clara
Se percebe bem ligeiro
Pra disputar eleição
Não basta falar maneiro
Se quiser vencer um pleito
Além de ter muito peito
Tem que ter muito dinheiro.

Zé de Catôta era um cabra
Que não tinha muito estudo
Mas sendo um autodidata
Sabia um pouco de tudo
Qualquer tipo de assunto
Ele sempre estava junto
Nunca agia feito mudo.

Só andava bem vestido
Camisa e calça comprida
Ensacado e de sapato
E uma caneta exibida
No bolso em cima do peito
Mostrando ser um sujeito
Forte e de grande medida.

Quando havia um grupinho
Travando uma discussão
Sobre o tema saúde,
Demonstrava ter noção
Fera no raciocínio
Também tinha bom domínio
De cultura e educação.

Falava de segurança,
De esporte, de lazer
Dava sempre opinião:
–É assim que tem que fazer!
Por que desse outro jeito
Vai ficar muito defeito
O povo é quem vai sofrer.

Tem que se dar assistência
Ao povo que é mais carente
Mas o que a gente ver
É um bando de incompetente
Político assim não presta
Ao povo somente resta                                     
O chegar de alguém decente!

Mas tinha um tipo de assunto
Que era o que Zé mais gostava
Grande número de pessoas
Sempre, sempre o procurava
Era grande a sua lista
Sobre questão trabalhista
Muito bem orientava.

Vinha gente da cidade
Também do interior
Oferecia consulta
Igualmente a um doutor
Desenrolava questão
Entre empregado e patrão
Urbano e agricultor

Encaminhava processos
Para o INSS
E por mais que complicado
Que o processo estivesse
Zé dava sempre um jeitinho
Conversando bem mansinho
E sempre com zero estresse.

Não cobrava nada pelos
Serviços que ali prestava
Apenas a satisfação
Quando ganho a causa dava
Mas recebia uns trocados
Dos novos aposentados
Que sempre o agradava.

Um dia Zé tava só
Em pose de pensador
Dizendo para si mesmo:
–Sou uma cabra de valor!
Tá bom de eu me animar
E o meu nome lançar
Para ser vereador!

Estou muito conhecido
Isso aí conta também
Até pouco tempo eu era
Apenas um “Zé Ninguém”
Mas hoje é diferente
Vejam o tanto de gente
Que todo dia aqui vem.

Pedem conselho a mim
Oriento, cobro nada
As pessoas vão embora
Numa alegria danada
E passados poucos dia
Só se ver a alegria
Com as causa todas ganhada.

Deixa eu ver...  Somando aqui...
Os que eu já ajudei
Os nomes que tem notado
Com os que não anotei
Fazendo com que se aumente
É fato que certamente
Eu, Zé me elegerei.

Porque veja...  junta o povo
Da família Oliveira,
Dos Nery, Costa e Medeiros,
Dos Santos, Silva e Moreira
Tenho certeza e aposto
Terei  mais de dois mil voto
Minha vitória é certeira.

Aí vai ser diferente
Serei cabra de ação
Na câmara municipal
Vou ter sempre a posição
De o político do novo
De vereador do povo
Cabra de convicção.

Criar projetos de lei
Dar assistência ao carente
Aprovar do executivo
Só projeto coerente
Com o bem estar comum
Não agradar só a um
Mas sim a toda essa gente.

Serei um grande fiscal
Desconfiarei de tudo
Se for para o bem do povo
Caio dentro e ajudo
Mas de mim não tem leilão
Rejeitarei mensalão
Em dinheiro ou borrachudo.

E pra mostrar como digo
Isso com propriedade
Vou pegar o meu salário...
Pode crer que é verdade!
Dele eu vou abrir mão
Doar para o povão
Pobre da nossa cidade.

Continuarei o mesmo
Que eu sempre busquei ser
A casa aberta pra os amigos
Eleitores receber
Bastará chamar “Ô Zé!”
Que eu estarei de pé
Prontinho pra atender.

Como já sou filiado
Isso não será problema
Resta agora propagar
A minha marca, meu lema
Disputar a eleição
E com essa votação
Que tenho tô no esquema.

Finalmente foi chegado
O dia da votação
Depois de noventa dias
De muita empolgação
Zé que estava animado
Findou bastante arrasado
Depois da apuração.

Não conseguiu entender
O que tinha acontecido
Os seus mais de dois mil votos
Pra onde “diabos” tinham ido
Tava tudo computado
E depois de apurado
Os pestes tinham sumido.

–A culpada disso é
A Justiça Eleitoral
Desses homens que estão lá
Trancados num tribunal
Que só querem ver o nobre
Ferrando o povo pobre
Tratando feito animal.

Uma urna eletrônica
Que do cabra mostra a foto
E o eleitor  todo "ancho"
Mete o dedo, dá seu o voto
E o voto pra outro vai
Num é mesmo um "carai"!
Assim ninguém eu derroto.

Tenho fé no eleitor
Esse não me enganou não
Ao contrário estão aqui
A mim dando a sua mão
Então vou manter o meu plano
Que daqui a quatro ano
Teremos nova eleição.

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