quarta-feira, 24 de junho de 2015
terça-feira, 16 de junho de 2015
NO RASTRO DO "VÉI" BILIU
(Benildo Nery)
Deus criou o ser humano
E deu-lhe o dom de pensar,
De estudar e analisar
Todos os dias do ano
Num esforço sobre-humano
Assim ele está agindo
Pesquisando e descobrindo
Cura pra doenças mil
Lá fora ou cá no Brasil
Remédio sempre é bem vindo.
Porem há tantas mazelas
Que cura ainda não tem
Quando certa cura vem
Deixa um monte de sequelas
Piores do que aquelas
Sentida anteriormente
Restando ao ser somente
Esperar cura sagrada
E trilhar sua estrada
Numa vida aparente.
Geraldo de Santa Rita
Um fino paraibano
Pôs em prática um plano
Casou com Maria Anita
Moça jovem tão bonita
Quanto uma flor de açucena
Calma, tranquila e serena
E outras qualidades tantas
Que estaria entre as santas
Aquela linda pequena.
Nos dias subsequentes
Ao tão sonhado casório
Foi do jeito do cartório
Jurado frente aos presentes
Relações de amor bem quentes
Companheirismo total
Pense num lindo casal!
Que aqueles dois formavam
Parecendo que habitavam
Um planeta surreal.
Meses, anos se passaram
Dessa vida rotineira
Companheiro e companheira
Nenhuma vez se afastaram
Nunca soube que brigaram
Discutiram ou coisa assim
Nunca pensei que um fim
Teria esse casamento
Quando soube no momento
Foi surpresa para mim.
Por ser grande amigo meu
Fui conversar com Geraldo
Tipo fazendo um rescaldo
Do clima que aconteceu
Ele até que me entendeu
Fui muito bem recebido
Ficou muito agradecido
E eu num tom bem agudo
Lhe disse: me conte tudo!
Deixe tudo esclarecido!
Ele respondeu num tom
De voz bastante baixinho:
“Meu caro e nobre amiguinho
Vida a dois é muito bom
Mas quando o mel do bombom
Se esgota aí já era
Parece que a Besta Fera
Dá um coice e tudo espalha
E o Diabo com uma navalha
Nesse caso aí impera.
A gente vivia bem
Num ambiente amoroso
Eu nunca fui vaidoso
E ela nunca foi também
Mas não é que um dia vem
O Cão pra atazanar
Tive que ir trabalhar
No ramo de construção
Daí nossa relação
Começou se transformar.
Eu passava a semana
Trabalhando de pedreiro
Dormindo lá no canteiro
Pra poder levantar grana
Pra uma vida bacana
A gente poder levar
Ia segunda e o voltar
Somente na sexta feira
E ela com uma besteira
Danada a reclamar.
Depois de um tempo passado
A reclamação cessou
Ela se reanimou
Sorria pra todo lado
Até que um dia eu deitado
Percebi algo estranho
Tomei um susto tamanho
Me levantei sem demora
E corri naquela hora
Pro banheiro tomar banho.
No lugar que eu estava
Bem deitado e relaxado
Algo ficou espalhado
E quanto mais se espanava
Mas aquilo se espalhava
Era algo poeirento,
‘Migalhoso’, branquicento,
Leve com o vento se ia
Gritei chamando: Maria,
Veja que troço nojento!
No banheiro eu esfregava
Com toda força do mundo
Pense num troço imundo
Shampoo, mais shampoo botava
Mas aquilo não parava
De soltar-se da cabeça
Com quem for que aconteça
Como eu se assustará
Nesse mundo não terá
Quem tal castigo mereça.
Parei o banho e corri
No meu quarto me sequei
O cabelo eu penteei
Em seguida eu dormi
De manhãzinha eu senti
Que o troço tinha aumentado
O pente que tinha usado
Estava cheio daquilo
Eu tentei ficar tranquilo
Mas fiquei mais assustado.
Cheia de enorme bondade
Maria fala mansinha:
‘Segunda de manhãzinha
Buscaremos na cidade
Um doutor de qualidade
Para a gente consultar!’
E para me acalmar
Ela disse bem assim:
‘Não deve ser nada ruim
Logo isso vai passar!’
Mais calmo o dia passei
Em casa o tempo inteiro
No espelho do banheiro
Muitas vezes me olhei
A cabeça não cocei
Pois o medo não deixou
Quando a segunda chegou
Fui ao doutor na cidade
Depois de uma eternidade
De espera me examinou.
Perguntas fez pra danado
E eu claro não fiquei mudo
Fui respondendo a tudo
‘É solteiro ou casado’
Depois todo aparelhado
Sentiu minha pulsação
Escutou meu coração
Disse estar tudo normal
Voltou-se então ao local
Fez outra ‘examinação’.
Lavrou de forma incontida
Com uma letra esgarranchada
Uma ‘listona’ danada
E me entregou em seguida
Dizendo: ‘faça partida
Para um laboratório
Tem um perto do cartório
Vá logo! Faça carreira!
Quando for segunda feira
Volte aqui no consultório!’
E sem nenhum ‘lengo-lengo’
Fui ao local indicado
Numa maca fui deitado
Daí rasparam meu quengo
E eu quietinho, não arengo
Quando é para o meu bem
Tiraram sangue também
Terminou e sem demora
Fui pra casa àquela hora
Voado com mais de cem.
Cheguei em casa Maria
Com umas camaradagem
Me abraçou, me fez massagem
Com a maior alegria
Passamos o resto do dia
Só nós dois, só ‘frescurando’
Acho você tá notando
Que enquanto se ‘frescurava’
Minha Maria estava
Com seu bem me acalmando.
Com dois dias fui pegar
Dos exames o resultado
E no tal dia marcado
Ao doutor eu fui mostrar
Ele ao analisar
Nos meus olhos me olhou
E em seguida falou:
‘Suas taxas estão normais
Quanto a cabeça rapaz
Agora me embaralhou.
Acho melhor você ir
A um dermatologista
Sendo especialista
Só ele irá conseguir
O que é isso descobrir
E ao diagnosticar
Um tratamento apontar
Com uma maior segurança
Não perca a esperança!
Cura se vai encontrar.
Fui ao dermatologista
Como o doutor falou
Este já me encaminhou
Pra outro especialista
Mais outro, acresceu a lista
E eu rodando e gastando
E o troço só aumentando
Cada dia que passava
Confesso que eu já estava
Louco, me desesperando.
Fiz promessa para os santos
Fiz consulta a feiticeira
Despacho com macumbeira
Aqui e em outros cantos
Chorei, de ficar em pratos
Mas de nada adiantou
Foi quando a gente achou
De uma forma bem dura
Que nunca teria cura
Esse mal que pegou.
Larguei minha profissão
Me isolei de todo mundo
Sentindo-me um imundo
Passei viver sem ação
Às portas da depressão
Estive por um momento
Foi quando um medicamento
Me livrou do desengano
Doutor José Galeano
Me indicou o tratamento.
Eu lhe contei o meu caso
Lhe deixei interessado
Em buscar um resultado
Pra me tirar do arraso
Quando encontrou sem atraso
Mostrou-se ser solidário
Com a mão no meu prontuário
Com voz firme e segura
Me disse: ‘tá aqui a cura!’
O doutor veterinário.”
Da cadeira um pulo eu dei
Quando ele assim falou
O meu corpo se abalou
De novo eu lhe perguntei
Quando de novo escutei
Meu juízo deu um nó
Juro pela minha vó
Quase que caio pra trás
Quando ele disse: ‘rapaz
Seu problema é chifre em pó!’
A cura foi dar um couro
E mandar Maria embora
Aquela peste caipora
Tava me fazendo um touro
Era um falso tesouro
Infeliz sem consciência
Fingindo benevolência
Sem pena só me chifrando
Mas esse mal tá passando
Graças a vasta ciência!”
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