sábado, 26 de março de 2016

PRESIDIÁRIO

(Benildo Nery)


Se a poesia é terrena
Por ela fui seduzido
Se ela for extraterrena
Fui por ela abduzido
Mas de uma coisa eu sei
Por querer me entreguei
Fui por ela apreendido.

E não tenho reagido
A esta exímia prisão
Por trás das grades da métrica
Estou por convicção
Com uma parceira de cela
Que é a rima mais bela
De uma improvisação.

Daqui, da minha visão
O Sol não nasce quadrado
Soberana brilha a Lua
Longe, além do lajeado
Seja na noite bem fria
Ou na quentura do dia
Sinto-me sempre inspirado.

Um mote bem arrumado
Um galope a beira mar
Uma canção de primeira
E um bonito pontear
Gemedeira, um aiaiai
Um mourão do você cai
Sempre vêm me visitar.

Às vezes sem esperar
Um quadrão adentra a cela
Sozinho ou acompanhado
De uma bonita Parcela
Aquela de mutirão
Prima irmã do Baião
Que anda sempre com ela.

E é justo através dela
Que eu sei como está Quarteto
Aquele do irmão gêmeo
Companheiro de Terceto
Que também é gemiado
E que só anda “encangado”
Os tais que formam o Soneto.

Sei notícias de Folheto
Cordel de Metrificar
Pergunto sobre Estribilho
Nunca vir me visitar
Assim como Haicai, Balada
Redondilha e Cruzada
Por onde estão a andar.

E para me alegrar
Me deixar super contente
Tem o meu advogado
Dr. Baião do Repente
Que as autos tem acesso
E faz com que meu processo
Rasteje anos pra frente.

E lá fora muita gente
Reunida a cobrar
Que eu continue preso
Pra eu nunca me soltar
E que eu cumpra a sentença
Pra parar de desavença
De não querer declamar.


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