segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
AS TRÊS NOITES DE ESCURO
(Benildo Nery)
Sou lá do
século passado
Antes do ano
dois mil
Habitante do
Brasil
Um solo
abençoado
Trago comigo
um legado
De um credo
bem seguro
Ao ponto de
dizer: juro!
Com o maior
tom de firmeza
Não haverá
luz acesa
Nas três noites
de escuro.
O cabra que
fala grosso
Pode crer
vai falar fino
Quem for
metido a granfino
Roerá
somente o osso
Não valerá o
seu colosso
Ganho em ato
obscuro
Do braço
pesado e duro
Ele sentirá
o peso
Você vai
ficar surpreso
Nas três
noites de escuro.
Vai ter
choro, vai ter grito
Gemidos
desesperados
Julgamento dos
pecados
Do jeito que
está escrito
Cidade,
vila, distrito
Fortaleza,
cerca, muro
Transformados
em munturo
Não darão
mais proteção
Vai ser uma
danação
Nas três
noites de escuro.
Bichos que
nunca falaram
Certamente
irão falar
Também vão
se levantar
Os que tanto
rastejaram
Os que
sempre apanharam
Cobrarão respeito
a juro
Não levarão
mais no furo
Quem montou
será montado
O mal será
condenado
Nas três
noites de escuro.
Lagos, oceanos,
mares
Tão quentes
fervilharão
Montanhas
explodirão
Mandando
tudo pros ares
Já as
calotas polares
Até então
gelo duro
Esteja
certo, asseguro
Que serão
descongeladas
Terras serão
inundadas
Nas três
noites de escuro.
A terra vai
ser cortada
Por
rachaduras, cratera
Nessa hora a
“Besta Fera”
Há de ser
ressuscitada
Partirá
desembestada
Para galgar
seu apuro
Cobrando a
alto juro
A quem é
devedor dela
Vai ter
coice na titela
Nas três
noites de escuro.
Campos serão
devastados
Faltará água
e comida
Daqui, dali
em partida
Milhões de
refugiados
Com sede e
fome, largados
Sem presente
e sem futuro
Trilhando no
inseguro
Deserto do
abandono
Ninguém matará o sono
Nas três
noites de escuro.
Nações serão
assoladas
Pelas mais
cruéis doenças
Que
recorrerão às crenças
Mas não
serão escutadas
Visto que
foram encerradas
Num instante
prematuro
Em ato frio
e duro
As vias da
salvação
Vai reinar
condenação
Nas três
noites de escuro.
Anjos
descerão tocando
Suas trombetas
douradas
As mãos
serão levantadas
E eles
arrebatando
É certo
estarão ficando
Os que têm
coração duro
Cheio de
pecado, impuro
Dominado pelo
mal
Tem julgamento
final
Nas três
noites de escuro.
Acredite,
não discuta
Está lá nas
escrituras
Salvos são
as criaturas
Que dão
ouvido e escuta
Que de Deus
defende a luta
Bem firme, forte
e seguro
De coração
limpo e puro
Que verá não
ser eclipse
Mas sim o
Apocalipse
As três
noites de escuro.
sábado, 13 de dezembro de 2014
PAPO PITORESCO
(Kynheo Ferreira)
Encontrei com Zé Matuto
amigo de Gonzagão
foi legal e discussão
o velhinho meio bruto
falava estar de luto
que nunca vai acabar
Gonzaga não vai voltar
mas era cabra astuto.
Perguntei pra ele então
você aprendeu tocar?
disse ele fabricar
berimbau e violão
eu fazia foguetão
e digo nesse momento
quem fabrica instrumento
né preciso tocar não.
Se chama chama zabumbeteiro
o cabra que faz zabumba
o nego que dança rumba
é chamado de rumbeiro
eu cahamo de foleteiro
o sujeito que faz fole
dançar tango não é mole
é negócio de tangueiro.
Quem faz pífano o que é?
ele disse é pifador!
Pandeiro? Panderador!
Você pode botar fé
quem faz teclado seu Zé?
esse é tecladeteiro
sanfonista é sanfoneiro
é coisa boa Mané.
Triângulo quem é que faz?
Me falou trianguetista
quem dança mambo é mambista
e ainda digo mais
eu conheci um rapaz
que era rabecador
fez rabeca sim senhor
lá na casa dos meus pais.
O caboco que faz gaita
é o puro gaitador
piano? Pianador
mas tem tocador que é baita
já vi uma tal de Kaita
que tocava vialejo
quase me mata de beijo
eita mulata peraita.
Conversamos um bocado
sobre as coisas do Brasil
me falou de Clodovil
naquele tempo passado
quando um abestalhado
escreveu pra perguntar
se o atraso ia passar
passou: estar conformado.
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
ARENGA COM SEU MANÉ
(Benildo Nery)
Nunca gostei
de arenga
Cum home nem
cum muié
Mai num é
que Seu Mané
Cabra véi
todo capenga
Vei c’uma
cara de quenga
Chei de
quizila pra mim
Dixe assim
desse jeitim:
- Você é um
sem futuro
Mijô no pé
do meu muro
Ao sair do
butiquim!
Num teno cuipa
em cartoro
Continuei em
linha reta
Cum a cabeça
bem ereta
Sem ligá pro
falatoro
Quando intão
Isidoro
Meu cumpade
de cachaça
Me alertô
achano graça
O véio fala
cuntigo
Vai aguentá
meu amigo?
Mostra logo
a tua raça!
E eu cuma já
estava
Com os corno
chei de cana
Agi todim um
sacana
Ao vê que de
mim tratava
O que o véio
falava
Gritei ligero
e vorai
Quem mijô
foi Satanai
Seu babaca
retardado
Se sô eu
tinha cagado
Home
sustenta o que fai!
Me respeite
meu amigo
Tenha mai prucidimento
Num diga que
sô nojento
Num aja
assim cumigo
Nunca temi a
castigo
Bebo proquê
sei bebê
Digo um
negoço a você
Sua idade
avançada
O livrô das
burduada
Poi eu num
vô le batê!
Mai o sinhô
bem merece
Uns tapa no
pé d’uvido
Agi feito um
atrivido
Aí cheim de
istresse
Esse home aqui
num carece
Desse home
aí pra nada
Nem vive de
presepada
Bebe só pro
divessão
Fique frio
meu patrão
Dexe dessa
paiaçada!
Aí Seu Mané
mudô
Sua
fisionomia
Seu grito
longe se uvia:
- Iscute
aqui meu sinhô
Num respeito
nem dotô
E nem as
auturidade
Que dirá uma
metade
De titica de
cachorro
Cabra que
num vale um “Zorro”
Bandido sem
qualidade!
Respeito
ixijo eu
Seu
cafajeste sacana
Vai inchê o
cu de cana
Pra dispoi
vim zombar deu
Dobre a
língua, infie o seu
Rabinho no
mei das perna
Moro nessa
casa derna
Isso aqui
nem rua era
Hoje vem um besta
fera
Na minha
casa e me inferna!
Vê se me fai
um favô
Se suma da
minha frente
Senão eu le
quebro os dente
De pau se
preciso fô
Um velhinho
eu já sô
Mai ainda
honro os cacho
Vá simbora ô
le esculacho
Num ligo a
idade que tenha
Qué vê eu
metê-le a lenha
Pra mostrá cuma
sô macho?!
E garrôsse
de um porrete
Que tinha
detrai da porta
Vi-me uma
pessoa morta
Ao vê aquele
cacete
Dei de mão
do capacete
Que Isidoro
levava
Quando dei
fé já istava
Sintino o
peso do toro
Fei carrera
Isidoro
Que nem bala
le pegava.
E Seu Mané
só mandano
Porrada de
todo lado
Eu tão bebo,
tão melado
Para trai ia
pulano
Foi quano
entrô um fulano
Bem no mei
da confusão:
- Seu Mané
faça isso não!
Ele já está
rendido
Já deve tê
aprendido
Essa pequena
lição!
Aí Seu Mané
parô
Com aquela
pancadaria
Nesse istante
eu num sintia
Nada mai
além de dô
Inda bem que
ele iscutô
O pedido do
fulano
Mermo assim
ficô falano
Bem arto p’reu
iscutá:
-Vá simbora
agora vá
Vorte pro
qui com cem ano!
Num passe
aqui de pé,
De bicicreta
nem moto
Sinão os
cachorro eu sorto
Isteja com
quem tivé!
Tô dizendo e
dô fé
Nunca aguentei
insurto
Basta eu só
vê seu vurto
Que istarei prerparado
Pra dexá-lo
assim quebrado
Cum esse meu
porrete curto!
Daí eu me levantei
Saí todo
trabecano
No caminho
fui pensano
No que
danado arrumei
Isidoro
procurei
Busquei uma
expricação
Preguntei quá
a razão
Dele tê me
abandonado
Na increnca
tê me jogado
E fugi sem
direção.
Ele vei c’umas
cunvessa
Que em nada
me agradô
Mai de lá
pra cá mudô
A minha vida
azavessa
Hoje num
entro mai nessa
De tumá cana
em buteco
E nem de sê
mai buneco
De amigo
increquero
Nem gasto
mai meu dinhero
Secano e
incheno caneco!
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