terça-feira, 9 de dezembro de 2014

ARENGA COM SEU MANÉ

(Benildo Nery)


Nunca gostei de arenga
Cum home nem cum muié
Mai num é que Seu Mané
Cabra véi todo capenga
Vei c’uma cara de quenga
Chei de quizila pra mim
Dixe assim desse jeitim:
- Você é um sem futuro
Mijô no pé do meu muro
Ao sair do butiquim!

Num teno cuipa em cartoro
Continuei em linha reta
Cum a cabeça bem ereta
Sem ligá pro falatoro
Quando intão Isidoro
Meu cumpade de cachaça
Me alertô achano graça
O véio fala cuntigo
Vai aguentá meu amigo?
Mostra logo a tua raça!

E eu cuma já estava
Com os corno chei de cana
Agi todim um sacana
Ao vê que de mim tratava
O que o véio falava
Gritei ligero e vorai
Quem mijô foi Satanai
Seu babaca retardado
Se sô eu tinha cagado
Home sustenta o que fai!

Me respeite meu amigo
Tenha mai prucidimento
Num diga que sô nojento
Num aja assim cumigo
Nunca temi a castigo
Bebo proquê sei bebê
Digo um negoço a você
Sua idade avançada
O livrô das burduada
Poi eu num vô le batê!

Mai o sinhô bem merece
Uns tapa no pé d’uvido
Agi feito um atrivido
Aí cheim de istresse
Esse home aqui num carece
Desse home aí pra nada
Nem vive de presepada
Bebe só pro divessão
Fique frio meu patrão
Dexe dessa paiaçada!

Aí Seu Mané mudô
Sua fisionomia
Seu grito longe se uvia:
- Iscute aqui meu sinhô
Num respeito nem dotô
E nem as auturidade
Que dirá uma metade
De titica de cachorro
Cabra que num vale um “Zorro”
Bandido sem qualidade!

Respeito ixijo eu
Seu cafajeste sacana
Vai inchê o cu de cana
Pra dispoi vim zombar deu
Dobre a língua, infie o seu
Rabinho no mei das perna
Moro nessa casa derna
Isso aqui nem rua era
Hoje vem um besta fera
Na minha casa e me inferna!

Vê se me fai um favô
Se suma da minha frente
Senão eu le quebro os dente
De pau se preciso fô
Um velhinho eu já sô
Mai ainda honro os cacho
Vá simbora ô le esculacho
Num ligo a idade que tenha
Qué vê eu metê-le a lenha
Pra mostrá cuma sô macho?!

E garrôsse de um porrete
Que tinha detrai da porta
Vi-me uma pessoa morta
Ao vê aquele cacete
Dei de mão do capacete
Que Isidoro levava
Quando dei fé já istava
Sintino o peso do toro
Fei carrera Isidoro
Que nem bala le pegava.

E Seu Mané só mandano
Porrada de todo lado
Eu tão bebo, tão melado
Para trai ia pulano
Foi quano entrô um fulano
Bem no mei da confusão:
- Seu Mané faça isso não!
Ele já está rendido
Já deve tê aprendido
Essa pequena lição!

Aí Seu Mané parô
Com aquela pancadaria
Nesse istante eu num sintia
Nada mai além de dô
Inda bem que ele iscutô
O pedido do fulano
Mermo assim ficô falano
Bem arto p’reu iscutá:
-Vá simbora agora vá
Vorte pro qui com cem ano!

Num passe aqui de pé,
De bicicreta nem moto
Sinão os cachorro eu sorto
Isteja com quem tivé!
Tô dizendo e dô fé
Nunca aguentei insurto
Basta eu só vê seu vurto
Que istarei prerparado
Pra dexá-lo assim quebrado
Cum esse meu porrete curto!

Daí eu me levantei
Saí todo trabecano
No caminho fui pensano
No que danado arrumei
Isidoro procurei
Busquei uma expricação
Preguntei quá a razão
Dele tê me abandonado
Na increnca tê me jogado
E fugi sem direção.

Ele vei c’umas cunvessa
Que em nada me agradô
Mai de lá pra cá mudô
A minha vida azavessa
Hoje num entro mai nessa
De tumá cana em buteco
E nem de sê mai buneco
De amigo increquero
Nem gasto mai meu dinhero
Secano e incheno caneco!
 



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