(Benildo Nery)
Ouvi de um certo poeta:
“Precisa ter
valentia
Pra viver de
cantoria!
Tem que ser mais
que atleta
Para
alcançar a sua meta
Remar contra
a maré
Ou no chão
correndo a pé
Entre
pedras, toco e lama
Pouco cobre
e pouca fama
No peito não
faltar fé.
Nos mais
longínquos lugares
Ir e marcar
um evento
E num ou
noutro momento
Querer
mandar pelos ares
Por não
contar com os pares
Aos quais se
fez o convite
Um teve
conjuntivite
O outro
indisposição
O terceiro o
coração
O quarto uma
laringite.
Numa sala ou
num salão
Pequeno,
muito apertado
Fedorento e
abafado
Com pouca
iluminação
Um bebo: Ô
Meu patrão
Bote outra
aí pra mim!”
E o poeta
bem assim:
Vá se sentar
meu amigo
Senão vai
levar castigo
Aqui não é
botequim!
Ver que
naquela bandeja
Num tamborete
enfeitada
Ainda não
caiu nada
Mas não
parar a peleja
Os dedos
chega lateja
E as rimas
vão e vêm
Dez, vinte,
cinquenta, cem
Tem mas só
no pensamento
Esse foi
mais um evento
Sem lucrar
nenhum vintém.
Ser lhe
sugerido um mote
Com termos
que não dão rima
Mas ter que
cair em cima
Como quem
passa um trote
Outro funga
no cangote
Dizendo: “Né
assim não!
Ele pediu
uma canção
E não o que tá cantando
Eu já vou me
retirando
Ô cantador
ruim do cão!”
Uma sede de
lascar
De água
nenhum copinho
E pra não
perder o pinho
Não poder
desconcentrar
E quando a goela
secar
De vez não
tem jeito para
Com o dia já
“as clara”
É momento de
ir embora
Ter quem diga
nessa hora
“Que
cantoria mais cara!”
O cantador
ir pra casa
Cansado e
sonolento
Quando
chegar ao aposento
Pés ardendo
feito brasa
Sentindo que
suas asa
No tronco foram
cortada
Lembrar das
horas passada
Ali naquele
salão
Liso sem ter
um tostão
É carreira
encerrada.
Isso só para
citar
Um pouco da
realidade
Num cheguei
nem na metade
Do que tenho
que contar
Então é
melhor parar
Com esse
“autobiografo”
Mas entenda
o desabafo
Nesta hora,
nesse dia
Pois viver
de cantoria
Esse assunto
eu abafo!
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