quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O EU POÉTICO

(Benildo Nery)


Só porque falo de amor
Não diz que sou amoroso
Também não sou rancoroso
Só porque falo em rancor
Muito menos sonhador
Só porque falo de sonho
Também nunca fui tristonho
Quando falei de tristeza
Quando falo de beleza
O que ela é só suponho.

Falo sempre em paixão
Sem estar apaixonado
Sem de ninguém ter cuidado
Eu falo em compaixão
Já falei de confissão
Mesmo sem nunca pecar
E mesmo sem despencar
Disse que caí da serra
Sem nunca ter ido à guerra
Já quis morrer e matar.

Sem nunca ser andarilho
Falei em muito andar
Sem nem mulher apertar
Já falei em espartilho
E até sem ser caudilho
Ditador eu já quis ser
Disse que é bom correr
Sem nunca eu ter corrido
Já disse estar escondido
Sem nunca me esconder.

Sem ter sido desejado
Sempre falo em tesão
Falo em enrolação
Sem nunca ter enrolado
Falo em beijo bem dado
Sem nunca língua chupar
Sempre quero antecipar
O que há tempo começou
Aponto pra quem errou
Sendo o primeiro a errar.

Critico a lentidão
Mesmo sendo o mais lento
Digo que tenho talento
Sem nenhuma aptidão
Trato como imensidão
Uma coisa bem amena
Uma chuvinha serena
Digo que é temporal
Me apresento como o tal
Mas com imagem pequena.

Não sou chegado à política
Mas bebo desse veneno
Corrupção eu condeno
Mas de forma casuística
Meto o pau e faço crítica
Mas gosto ser convidado
Pelo corrupto citado
Na minha declamação
Brigado de coração
Outra vez muito obrigado!


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