segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O MEU CASAMENTO COM MARIQUINHA

(Benildo Nery)


Me casei com Mariquinha
Uma rosa de pessoa
Modesta, bastante simples,
Caridosa, gente boa!
Que danada mais bonita!
Na sina ela estava inscrita
Pra ser a minha patroa.

Nesse tempo eu morava
Lá no Sítio Riachão
Um lugar muito distante
Dessa civilização
Lugarzinho bom de morar
Não tenho o que reclamar
Daquele rico rincão!

Mariquinha também era
Da mesma localidade
Do mesmo jeito que eu
Vinha pouco na cidade
Só vivia trabalhando
Das suas coisas cuidando
Uma mulher de verdade!

Não gostava de fofoca
E menos de conversinha
Dificilmente se via
Ela em casa de vizinha
Só se houvesse precisão
Que ela procurava então
Qualquer pequena ajudinha.

Odiava palavrão
Xingamento e baixaria
Arenga e discursão
Pra ela não existia
A isso ela não se dava
Porque onde nós morava
Em paz sempre se vivia.

Nunca fez questão de ter
Aparelho celular
Ia ao encontro de alguém
Quando algo ia tratar
Tablet, computador
Ela podia senhor
Mas não pensava em comprar.

Nos conhecemos na roça
Em uma “empeleitada”
O seu pai sempre fez uso
De mão de obra alugada
Como disso é que eu vivia
Meu serviço oferecia
Topava qualquer parada.

Ela dava assistência
No campo de plantação
E por ser tão linda e bela
Chamava muito atenção
Olhadinhas disfarçadas
Meio com tons de cantadas
Por parte dos marmanjão.

Quando eu vi aquela moça
Com a pele de cor morena
Cabelos longos e feição
Suavemente serena
Senti no meu coração
Grande aceleração
Uma arritmia plena

O sol brilhava e exibia
Sua silhueta bela
Que nos meus anos de vida
Nunca vi igual aquela
O fino se misturava
Com o grosso onde trabalhava
Uma cena de novela.

Aí não contei história
Lhe fiz uma investida
Fiquei sabendo seu nome
Se era ou não comprometida
Quando ouvi o seu não
De novo o meu coração
Acelerou a batida.

Quando foi chegada a hora
Voltei lá para o meu eito
Terminado fui pra casa
Banho; comi fui pro leito
Não parei de pensar nela
Pois via que eu com e ela
Formava um par perfeito.

Continuei a investir
Na iniciada paixão
No campo quando eu a via
Fazia aproximação
Elogiava seu jeito
Sem lhe faltar com respeito
E com muita educação.

Perguntei um dia a ela:
Você me quer como amigo?
Com um toque de “afoitice”
Namoraria comigo?
Ela disse: “ai, ai, ai...
Se você falar com pai
Aí depois eu lhe digo!”

Dia seguinte disposto
Uma decisão tomei
Fiz ao seu pai o pedido
Sua casa frequentei
Pouco tempo de noivado
Naquele ano findado
Com ela eu me casei.

Ai que dia especial!
Que festa boa danada!
Comida, muito forró
Debaixo de uma latada
Bebida tinha bastante:
Cachaça, vinho, espumante,
Muita cerveja gelada.

Fomos morar ali mesmo
Perto dos nossos parente
Em uma casinha humilde
Com um alpendre na frente
Do jeito que nós sonhamos
Uns detalhes adequamos
Ficou com a cara da gente.

Arrumamos a mobília
Tudo o que a gente ganhou
Uma parte que comprei
Outra que ela comprou
Inda faltava um bocado
Mas para um recém-casado
Uma beleza ficou.

Mantivemos a rotina
Da nossa vida rural
Dormir cedo, acordar cedo
Coisa que era natural
Trabalhar o dia inteiro
Ela lidando ao caseiro
E eu no trabalho braçal.

Com dois anos de casados
Tudo tinha melhorado
Uns animais no curral
Que a gente tinha comprado
Eu que nunca fui de farra
Trabalhei com muita garra
Até sair do alugado.

Um filho de um aninho
Complementava o lar
Uma Honda bem novinha
Já tinha pra passear
E pra outras necessidade
Como ir para a cidade
Quando de algo precisar.

No começo ela estranhou
E agiu com resistência:
- Não quero pilotar moto!
Eu não tenho paciência!
Depois de eu muito insistir
Acabou por decidir
Fazer uma experiência.

Bastou umas três aulinhas
Já estava desenrolada
Pra resolver qualquer coisa
Pegava logo a estrada
Toda “ancha” ela saia
Em todo canto se via
Ela na moto montada.

E foi aí meu patrão
Que começou o desando
Nessas viagens de moto
Acabou se acostumando
Não parava mais em casa
A danada criou asa
Só vivia passeando.

Eu saia para a lida
E ela em casa ficava
Mais ou menos onze horas
Quando pra casa eu voltava
Era Juninho largado
Tudo, tudo revirado
Nem o rango pronto estava.

Com umas certas vizinhas
Arrumou logo amizade
Vez em quando era vista
Andando pela cidade
Comprou até celular
Abandonou nosso lar
E caiu na vaidade.

Nas horas que estava em casa
Não ligava mais pra mim
Eu ensaiava um chamego
Dizia não estar afim
Com um diabo de um celular
Agarrada a cutucar
Só vendo como era ruim!

Eu nunca tive a certeza
Mas acho que ela estava
Com um caso com alguém
Pois a me ver disfarçava
Falava com muita pressa
Adiava a conversa
E o celular desligava.

Adotou um conversero
Com recheio de palavrão:
Eita porra! Eita caralho!
Que cara mais babacão!
Isso é um misera frouxo!
Num aguenta um arrocho,
“Sé” marido pra ladrão!

Que mudança radical
Deu-se com a Mariquinha
Aquela que sempre foi
A outra metade minha
Estava toda virada
De vida desmantelada
Baita de uma mulherzinha.

Eu juro que não entendo
O que foi que aconteceu
Fico buscando um culpado
O que danado se deu?
Depois da reflexão
Cheguei a uma conclusão:
O culpado não fui eu!

Então de quem foi a culpa?
Voltei a me perguntar
Acho que aquela mulher
Que levei para o altar
Também não foi a culpada
A culpa foi da danada
Da moto e do celular.

Depois disso meu patrão
O casamento se desfez
Digo não me arrependi
Casaria outra vez
Para esquecer daquela
A quem me dei todo a ela
Num ato de estupidez.

Aliás... tô de paquera
Com alguém deste lugar
Mas desta vez vou com calma
Não quero me adiantar
Vou namorar por mais tempo
Pra não haver contratempo
Se eu chegar a me casar.


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