(Benildo Nery)
Me casei com
Mariquinha
Uma rosa de
pessoa
Modesta,
bastante simples,
Caridosa,
gente boa!
Que danada
mais bonita!
Na sina ela estava
inscrita
Pra ser a
minha patroa.
Nesse tempo
eu morava
Lá no Sítio
Riachão
Um lugar
muito distante
Dessa
civilização
Lugarzinho
bom de morar
Não tenho o
que reclamar
Daquele rico
rincão!
Mariquinha
também era
Da mesma
localidade
Do mesmo
jeito que eu
Vinha pouco
na cidade
Só vivia
trabalhando
Das suas
coisas cuidando
Uma mulher
de verdade!
Não gostava
de fofoca
E menos de
conversinha
Dificilmente
se via
Ela em casa
de vizinha
Só se
houvesse precisão
Que ela
procurava então
Qualquer
pequena ajudinha.
Odiava
palavrão
Xingamento e
baixaria
Arenga e
discursão
Pra ela não
existia
A isso ela
não se dava
Porque onde
nós morava
Em paz
sempre se vivia.
Nunca fez
questão de ter
Aparelho
celular
Ia ao
encontro de alguém
Quando algo
ia tratar
Tablet, computador
Ela podia
senhor
Mas não
pensava em comprar.
Nos
conhecemos na roça
Em uma “empeleitada”
O seu pai
sempre fez uso
De mão de
obra alugada
Como disso é
que eu vivia
Meu serviço
oferecia
Topava
qualquer parada.
Ela dava
assistência
No campo de
plantação
E por ser
tão linda e bela
Chamava
muito atenção
Olhadinhas
disfarçadas
Meio com
tons de cantadas
Por parte
dos marmanjão.
Quando eu vi
aquela moça
Com a pele
de cor morena
Cabelos longos
e feição
Suavemente
serena
Senti no meu
coração
Grande
aceleração
Uma arritmia
plena
O sol
brilhava e exibia
Sua silhueta
bela
Que nos meus
anos de vida
Nunca vi
igual aquela
O fino se
misturava
Com o grosso
onde trabalhava
Uma cena de
novela.
Aí não
contei história
Lhe fiz uma
investida
Fiquei
sabendo seu nome
Se era ou
não comprometida
Quando ouvi
o seu não
De novo o
meu coração
Acelerou a
batida.
Quando foi
chegada a hora
Voltei lá
para o meu eito
Terminado fui
pra casa
Banho; comi fui
pro leito
Não parei de
pensar nela
Pois via que
eu com e ela
Formava um
par perfeito.
Continuei a
investir
Na iniciada
paixão
No campo
quando eu a via
Fazia
aproximação
Elogiava seu
jeito
Sem lhe
faltar com respeito
E com muita
educação.
Perguntei um
dia a ela:
Você me quer
como amigo?
Com um toque
de “afoitice”
Namoraria
comigo?
Ela disse:
“ai, ai, ai...
Se você
falar com pai
Aí depois eu
lhe digo!”
Dia seguinte
disposto
Uma decisão
tomei
Fiz ao seu
pai o pedido
Sua casa
frequentei
Pouco tempo
de noivado
Naquele ano
findado
Com ela eu
me casei.
Ai que dia
especial!
Que festa
boa danada!
Comida,
muito forró
Debaixo de
uma latada
Bebida tinha
bastante:
Cachaça,
vinho, espumante,
Muita cerveja
gelada.
Fomos morar
ali mesmo
Perto dos
nossos parente
Em uma
casinha humilde
Com um
alpendre na frente
Do jeito que
nós sonhamos
Uns detalhes
adequamos
Ficou com a
cara da gente.
Arrumamos a
mobília
Tudo o que a
gente ganhou
Uma parte
que comprei
Outra que ela
comprou
Inda faltava
um bocado
Mas para um recém-casado
Uma beleza
ficou.
Mantivemos a
rotina
Da nossa
vida rural
Dormir cedo,
acordar cedo
Coisa que
era natural
Trabalhar o
dia inteiro
Ela lidando
ao caseiro
E eu no
trabalho braçal.
Com dois
anos de casados
Tudo tinha
melhorado
Uns animais
no curral
Que a gente
tinha comprado
Eu que nunca
fui de farra
Trabalhei
com muita garra
Até sair do
alugado.
Um filho de
um aninho
Complementava
o lar
Uma Honda
bem novinha
Já tinha pra
passear
E pra outras
necessidade
Como ir para
a cidade
Quando de
algo precisar.
No começo
ela estranhou
E agiu com
resistência:
- Não quero
pilotar moto!
Eu não tenho
paciência!
Depois de eu
muito insistir
Acabou por
decidir
Fazer uma
experiência.
Bastou umas
três aulinhas
Já estava
desenrolada
Pra resolver
qualquer coisa
Pegava logo
a estrada
Toda “ancha”
ela saia
Em todo
canto se via
Ela na moto
montada.
E foi aí meu
patrão
Que começou
o desando
Nessas
viagens de moto
Acabou se
acostumando
Não parava
mais em casa
A danada
criou asa
Só vivia
passeando.
Eu saia para
a lida
E ela em
casa ficava
Mais ou
menos onze horas
Quando pra
casa eu voltava
Era Juninho
largado
Tudo, tudo
revirado
Nem o rango
pronto estava.
Com umas
certas vizinhas
Arrumou logo
amizade
Vez em
quando era vista
Andando pela
cidade
Comprou até
celular
Abandonou
nosso lar
E caiu na
vaidade.
Nas horas
que estava em casa
Não ligava
mais pra mim
Eu ensaiava
um chamego
Dizia não estar
afim
Com um diabo
de um celular
Agarrada a
cutucar
Só vendo
como era ruim!
Eu nunca
tive a certeza
Mas acho que
ela estava
Com um caso
com alguém
Pois a me
ver disfarçava
Falava com
muita pressa
Adiava a
conversa
E o celular
desligava.
Adotou um
conversero
Com recheio
de palavrão:
Eita porra!
Eita caralho!
Que cara
mais babacão!
Isso é um
misera frouxo!
Num aguenta
um arrocho,
“Sé” marido
pra ladrão!
Que mudança
radical
Deu-se com a
Mariquinha
Aquela que
sempre foi
A outra
metade minha
Estava toda virada
De vida
desmantelada
Baita de uma
mulherzinha.
Eu juro que
não entendo
O que foi
que aconteceu
Fico
buscando um culpado
O que danado
se deu?
Depois da
reflexão
Cheguei a
uma conclusão:
O culpado
não fui eu!
Então de
quem foi a culpa?
Voltei a me
perguntar
Acho que
aquela mulher
Que levei
para o altar
Também não
foi a culpada
A culpa foi
da danada
Da moto e do
celular.
Depois disso
meu patrão
O casamento
se desfez
Digo não me
arrependi
Casaria
outra vez
Para
esquecer daquela
A quem me
dei todo a ela
Num ato de estupidez.
Aliás... tô
de paquera
Com alguém
deste lugar
Mas desta
vez vou com calma
Não quero me
adiantar
Vou namorar
por mais tempo
Pra não
haver contratempo
Se eu chegar
a me casar.
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