quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
SOFRENÇA
(Serginho Gommes)
“Tudo deve ter limite”
Esse é sábio ditado
Mas já tá ilimitado
O que hoje se admite
Até gente da elite
Já contraiu a doença
Não nota mais diferença
De música ruim ou boa
Virando um Mané à toa
Curtindo aquela “sofrença”.
Essa “sofrença” surgiu
Pra perturbar nossa mente
Só mesmo um delinquente
Diz que é bom e curtiu
Um vídeo que ele viu
E compartilha na hora
Depois comenta que adora
O som vai logo ligando
Passa o dia escutando:
É... Porque homem não chora.
Logo a praga se espalha
Por todo o território
Sentindo que o repertório
Corta mais do que navalha
Típico de quem leva galha
De quem se ver sofredor
Na voz chata do cantor
O cara fica na mão
Ouvindo separação
E vingança do amor.
Você vai ficar sem mim
E diz que não me quer mais
Tu me odeias demais
O nosso amor teve fim
Espera! tem mais ruim
Está tudo terminado
É um sucesso danado
A música: casa vazia
Que a letra anuncia
Um idiota apaixonado
E vivendo sem ninguém
Também é sofrença sim
Tem outra: mente pra mim
E existem mais de cem
Não valem nenhum vintém
São carniças pra urubu
Quem compôs foi Belzebu
Essas letras de regresso
Mesmo assim se faz sucesso
A droga Bilu, Bilu.
domingo, 18 de janeiro de 2015
O GEMIDO
(JC Paixão)
O momento mais marcante
Na relação de um casal
Aquele que nos transforma
Nos faz bem, as vezes mal
Tem gente que não aguenta
E vai parar no hospital.
A hora mais desejada
No momento mais querido
O calor é ofegante
Daí o corpo despido
Atividade incessante
Falta fôlego e não gemido.
Quando se é com carinho
O gemido é com prazer
Quando é sem o desejo
O gemido é de sofrer
Para ter um bom gemido
É bom o casal querer.
Lembro sempre seu gemido
De alegria em meus braços
Também lembro seu gemido
De não querer só cansaços
Amor bom é quando os dois
Trocam carinhos e abraços.
Isso não dói tanto em mim
O que dói é eu saber
Que aquele seu gemido
De alegria e prazer
Você faz em outros braços
Com amor e sem sofrer.sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
ZÉ GIROIME - O HOMEM QUE SE INVURTAVA
(Benildo Nery)
Eu tenho um grande amigo
No Sítio Piraporinha
Que na juventude minha
Era colado comigo
Sempre quando venho sigo
Pra fazer-lhe uma visita
Até hoje ele acredita
Nessas coisas de magia,
De macumba e bruxaria
Tudo de sessão espírita.
Estive no mês passado
Com ele na sua casa
Aí a gente extravasa
Conversando um bocado
Às vezes fico assustado
Com as coisas que ele conta
Mas comigo não apronta
Sabe quando recuar
Ou de assunto mudar
A mim nunca desaponta.
Nessa ele me contou
Algo de antigamente
Que guarda na sua mente
Que do seu pai escutou
Ainda mais confessou:
“Nunca contei pra ninguém
Proquê pra prová num tem
São coisa de otros prano
E tem mai... tem muitos ano
Eu acho q’ué mai de cem!
Meu pai me contô assim:
Derna quand’eu piquinino
Q’eu uvia mãe dizê
Zé Giroime tem pudê
Acho q’ué pudê divino!
Só seno isso minino!
Num tem otra ispricação
Se num fô isso intão
Cuma é q’ele tá aqui
Dispoi aparece ali
Cuma fosse assumbração?
Otro dia ele tava
La pras banda do riacho
Na mão sigurano um cacho
De pitomba que chupava
As muié banho tumava
Nuas sem ligá cum nada
Em uma farra danada
Poi lá num havia home
Mai num é que Zé se some
Pra dá uma ispiada!
E quano ele quiria
Ir pra um forró dançá
Dava um jeito de entrá
Sem pagá e consiguia
Quano oiava se via
Zé Giroime já dançano
Grudado, se requebrano
Cum as muié no salão
Aquele ispertaião
Dos pudê anda usano.
E otras mai Zé aprontava
Sem gastá nenhum tustão
Ropa tinha de montão
Conde quiria pegava
Prefume nunca fartava
Carçado do bom tombém
Nota de cinquenta, cem
E namorada de mai
Fartava só o rapai
Sê o dono dum harém.
Ais vei ele inventava
De cum os otro bagunçá
Coisa que estava a cá
Notro canto ele butava
Aí ele se mutava
Nas coisa q’ele quiria
Queto num se rimixia
Fazeno ais vei de mudo
Dispoi que passava tudo
Sirrindo se divirtia.
Aí meu pai mai sensato
Compretava bem assim:
Eu sei timtim por timtim
Cuma procede esse fato
Eu iscutei um buato
Que tá puraí rolano
Que Zé tá se invurtano
Poi dixero que herdô
Um livro do seu avô
Que é de São Cipriano.
Ele ainda num tem
A metade dos pudê
Proquê só chegô a lê
As parte que le convém
De página são mai de cem
Cuma tem poca leitura
Essa pobe criatura
Usa de foima errada
Logo será disvendada
Toda sua aventura.”
Fiquei impressionado
Com aquela narrativa
Parecia estava viva
Com tanto detalhe dado
E depois de eu ter voltado
Pra casa no outro dia
Até parece que eu via
Zé Giroime o personagem
Retratado na imagem
De alguém que eu conhecia.
Aí fui analisando
Será a mesma pessoa?
Pense numa história boa
Fui os detalhes ligando
Daí fui observando
Coisas que presenciei
Mas atenção nunca dei
Do jeito que deveria
Mas depois daquele dia
Pra tal fato despertei.
Eu analisei assim:
Um encontro eu marquei
Com a minha namorada
Numa casa abandonada
A ninguém nunca contei
Quando eu menos esperei
Esse alguém chega pra mim
E diz sorrindo assim:
“Acha que me despistasse
Eu tava lá nem notasse
Pense num encontro ruim!”
Não podia ser verdade
Isso me deixou bolado
O tal do local marcado
Muito além da cidade
Era uma tranquilidade
Era o maior deserto
Não tinha ninguém! Tô certo!
Disso me certifiquei!
Mas... espera! Me lembrei!
Tinha um gato lá perto.
Outro dia a gente estava
Em um bar tomando uma
Tinha cerveja de ruma
Cada rodada um pagava
Ele era quem mais tomava
Numa grande euforia
Quando ele percebia
Sua vez de pagar chegando
Já ia se despistando
E de repente sumia.
Isso sem contar que a gente
Curtia uma noitada
A casa de show lotada
Lá dentro e lá na frente
Quando vejo de repente
Tome soco pro meu lado
E não é que o danado
Lá dentro fez confusão
O pau quebrou no salão
E ele lá fora sentado.
E o mais interessante
Que ele nem deixa sinal
É uma coisa anormal
Deveras impressionante
Tudo de gente importante
Ele sabe, e sai contando
Ninguém o vê frequentando
A casa de seu ninguém
Por isso digo esse alguém
Só pode está se “invurtando!”
Tem dinheiro e casa boa
Só anda todo alinhado
Gordo, bem alimentado
Não trabalha, vive à-toa
É uma boa pessoa
Também não é nada feio
De nada ele tem receio
Aqui, ali, acolá
Em toda farra que há
O peste está no meio.
Eu já estou convencido
Tenho certeza que é ele
Zé tomou o corpo dele
Ele está possuído
Ou senão deve ter lido
Também o São Cipriano
Que transforma um fulano
No que quer é só querer
É verdade esse poder
É coisa de outro plano!
Meu grande amigo está certo
Ele tem toda razão
Vou prestar mais atenção
Vou ficar bem mais esperto
Quando esse alguém tiver perto
Nele vou ficar ligado
Pra não ser ludibriado
E nem lesado também
Por poderes do além
De um cabra invurtado!
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