quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O CACHORRO DO BARÃO

(Benildo Nery)


O meu nome é Severino
Filho de Dona Luzia
Vim do Sertão da Bahia
No rastro do meu destino
Me orgulho em ser nordestino
Nunca nego isso não
Vou fazer uma narração
Da vida que estou levando
Morando e trabalhando
Na casa de um barão.

Cheguei ainda bem moço
Na cidade de São Paulo
Aproveitei o embalo
Pra fugir do alvoroço
Pois com a corda no pescoço
Eu vivia em minha terra
De lá do alto da serra
Daquele sertão baiano
Até o lugar mais plano
A fome tudo encerra.

Depois de muita procura
Um emprego arranjei
Ainda titubeei
Mas vi que aquela altura
Voltar pra aquela “penura”
Não podia nem pensar
Resolvi aproveitar
Aquela oportunidade
Em novembro, mês metade
Comecei a trabalhar.

No começo estranhei
A vida de novidade
Porque morar em cidade
Grande eu nunca pensei
Com esforço me acostumei
Com o trabalho e enfim...
Tá sendo bom para mim
Estou quase satisfeito
Sou tratando com respeito
Pela família Amorim.

As minhas obrigações
Eu faço sem reclamar
Todo o jardim limpar
Zelar das instalações
Limpar piscina, portões
Com sorriso sempre exposto
Demonstrando ser disposto
Nada deixo na metade
Com Bom Dia! E Boa Tarde!
De manhãzinha ao sol posto.

Sou bastante dedicado
Sei bem qual o meu dever
Mas uma que vou fazer
Neste momento chegado
Me deixa muito irritado
Basta somente pensar
É de tarde passear
Com o danado de um cão
“Des’tamanho”... Oh! O bichão!
Até ele se cansar.

O bicho é muito forte
Só falta me derrubar
Nele pode se montar
Que ele serve de transporte
Leva qualquer um pro Norte
Servindo de montaria
Juro com ele eu iria
Rever meus pais e irmão
E os amigos do torrão
Da minha amada Bahia.

As patas dele parecem
Com as de um elefante
Ou de outro bicho gigante
Desses que poucos conhecem
Quando ele pisa elas descem
Deixando marcas no chão
Tais pegadas de dragão
Vistos nos contos de fada
Ou então pelas deixada
Na África por um leão.

Uma cabeça enorme
Que parece com a de touro
O seu pelo e seu couro
Sedosos e uniforme
Tudo nele é conforme
Seus traços e sua raça
Nunca servirá pra caça
Pois toda estraçalharia
Seria até covardia
Botá-lo pra sentar praça.

Tem que ver o que ele come
Bife de filé mignon
Ração marca ChiqueBon
Um saco em um dia some
A água que ele consome
É só água mineral
Parece ser anormal
Eu também pensava assim
Hoje tem sido pra mim
Tudo mais do que normal.

O seu latido parece
O estrondo de um trovão
Ele solta aquele "uivão"
Chega a terra estremece
Tem gente que até faz prece
Se benze ao vê-lo passar
Eu peço pra se afastar
E todos vão se afastando
E ele sai desfilando
Quase a me arrastar
  
Vez em quando eu me lembro
Do meu cachorro Bidu
Caçadorzinho de tatu
Que da família era membro
De dezembro a dezembro
Era grande companheiro
Pequenino, batateiro
Louco por cuscuz e ovo
Que só latia pro povo
Que chegava no terreiro.

Mas lembranças são lembranças
“Viva a realidade!”
Hoje aqui nessa cidade
Sigo a nutrir esperanças
Espero venha bonanças
Que chova no meu rincão
Que molhe aquele torrão
Que a vida vá florescendo
Enquanto vou convivendo
Com o cachorro do Barão.

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