sexta-feira, 16 de maio de 2014

CONVERSA DE CANDIDATO TABACUDO

(Benildo Nery)

Para ser um candidato
Tem que ter aptidão
Pré-requisitos listados
Na nossa legislação:
Saber ler e escrever
A justiça não dever
Ter uma filiação.

Também há os requisitos
Que até são legislados
Só que com um tal jeitinho
Todos eles são driblados:
Caixa dois e três montar
Monte de votos comprar
Com favores e agrados

Sendo assim é coisa clara
Se percebe bem ligeiro
Pra disputar eleição
Não basta falar maneiro
Se quiser vencer um pleito
Além de ter muito peito
Tem que ter muito dinheiro.

Zé de Catôta era um cabra
Que não tinha muito estudo
Mas sendo um autodidata
Sabia um pouco de tudo
Qualquer tipo de assunto
Ele sempre estava junto
Nunca agia feito mudo.

Só andava bem vestido
Camisa e calça comprida
Ensacado e de sapato
E uma caneta exibida
No bolso em cima do peito
Mostrando ser um sujeito
Forte e de grande medida.

Quando havia um grupinho
Travando uma discussão
Sobre o tema saúde,
Demonstrava ter noção
Fera no raciocínio
Também tinha bom domínio
De cultura e educação.

Falava de segurança,
De esporte, de lazer
Dava sempre opinião:
–É assim que tem que fazer!
Por que desse outro jeito
Vai ficar muito defeito
O povo é quem vai sofrer.

Tem que se dar assistência
Ao povo que é mais carente
Mas o que a gente ver
É um bando de incompetente
Político assim não presta
Ao povo somente resta                                     
O chegar de alguém decente!

Mas tinha um tipo de assunto
Que era o que Zé mais gostava
Grande número de pessoas
Sempre, sempre o procurava
Era grande a sua lista
Sobre questão trabalhista
Muito bem orientava.

Vinha gente da cidade
Também do interior
Oferecia consulta
Igualmente a um doutor
Desenrolava questão
Entre empregado e patrão
Urbano e agricultor

Encaminhava processos
Para o INSS
E por mais que complicado
Que o processo estivesse
Zé dava sempre um jeitinho
Conversando bem mansinho
E sempre com zero estresse.

Não cobrava nada pelos
Serviços que ali prestava
Apenas a satisfação
Quando ganho a causa dava
Mas recebia uns trocados
Dos novos aposentados
Que sempre o agradava.

Um dia Zé tava só
Em pose de pensador
Dizendo para si mesmo:
–Sou uma cabra de valor!
Tá bom de eu me animar
E o meu nome lançar
Para ser vereador!

Estou muito conhecido
Isso aí conta também
Até pouco tempo eu era
Apenas um “Zé Ninguém”
Mas hoje é diferente
Vejam o tanto de gente
Que todo dia aqui vem.

Pedem conselho a mim
Oriento, cobro nada
As pessoas vão embora
Numa alegria danada
E passados poucos dia
Só se ver a alegria
Com as causa todas ganhada.

Deixa eu ver...  Somando aqui...
Os que eu já ajudei
Os nomes que tem notado
Com os que não anotei
Fazendo com que se aumente
É fato que certamente
Eu, Zé me elegerei.

Porque veja...  junta o povo
Da família Oliveira,
Dos Nery, Costa e Medeiros,
Dos Santos, Silva e Moreira
Tenho certeza e aposto
Terei  mais de dois mil voto
Minha vitória é certeira.

Aí vai ser diferente
Serei cabra de ação
Na câmara municipal
Vou ter sempre a posição
De o político do novo
De vereador do povo
Cabra de convicção.

Criar projetos de lei
Dar assistência ao carente
Aprovar do executivo
Só projeto coerente
Com o bem estar comum
Não agradar só a um
Mas sim a toda essa gente.

Serei um grande fiscal
Desconfiarei de tudo
Se for para o bem do povo
Caio dentro e ajudo
Mas de mim não tem leilão
Rejeitarei mensalão
Em dinheiro ou borrachudo.

E pra mostrar como digo
Isso com propriedade
Vou pegar o meu salário...
Pode crer que é verdade!
Dele eu vou abrir mão
Doar para o povão
Pobre da nossa cidade.

Continuarei o mesmo
Que eu sempre busquei ser
A casa aberta pra os amigos
Eleitores receber
Bastará chamar “Ô Zé!”
Que eu estarei de pé
Prontinho pra atender.

Como já sou filiado
Isso não será problema
Resta agora propagar
A minha marca, meu lema
Disputar a eleição
E com essa votação
Que tenho tô no esquema.

Finalmente foi chegado
O dia da votação
Depois de noventa dias
De muita empolgação
Zé que estava animado
Findou bastante arrasado
Depois da apuração.

Não conseguiu entender
O que tinha acontecido
Os seus mais de dois mil votos
Pra onde “diabos” tinham ido
Tava tudo computado
E depois de apurado
Os pestes tinham sumido.

–A culpada disso é
A Justiça Eleitoral
Desses homens que estão lá
Trancados num tribunal
Que só querem ver o nobre
Ferrando o povo pobre
Tratando feito animal.

Uma urna eletrônica
Que do cabra mostra a foto
E o eleitor  todo "ancho"
Mete o dedo, dá seu o voto
E o voto pra outro vai
Num é mesmo um "carai"!
Assim ninguém eu derroto.

Tenho fé no eleitor
Esse não me enganou não
Ao contrário estão aqui
A mim dando a sua mão
Então vou manter o meu plano
Que daqui a quatro ano
Teremos nova eleição.

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