quarta-feira, 18 de março de 2015

A VIÚVA JOANITA

(Benildo Nery)

― Vixe Maria menino!
O que foi que aconteceu?
Joanita era tão feia
Depois que Bira morreu
Tá toda maravilhosa
Que viuvinha gostosa
Que o finado perdeu.

Dizia assim Amadeu
Gritando todo animado:
― Quem é que terá a sorte?
Quem será o premiado?
Essa eu pago pra ver
Quem é que irá viver
Com Joanita do seu lado?...

...Sou um sujeito prendado
Sou gastador sem ter pena
Se essa coisinha linda
Contra mim não fizer cena
A tomarei por querida
E passarei minha vida
Nos braços dessa morena.

Aí salta Zé de Nena:
― Na tua frente estou eu
Fica quieto no teu canto!
Sossega aí Amadeu!
Joanita quer é a mim
Pois viver com cabra ruim
Já bastou o que morreu!...

...Ou você já se esqueceu
Que já foi homem casado
Que maltratou a esposa
Que bateu nela um bocado
Hoje vive em abandono
Todinho um cão sem dono
Por tudo mundo largado...

...Ela vivendo ao teu lado
Será uma fracassada
Vai ficar seca de novo
Feiosa e acabada
Sei bem quais são os seus planos
Comer pensão muitos anos
Depois dela enterrada.

Irado, cara fechada
Amadeu retruca: ― Zé...
Me respeite seu safado!
Qual é a sua? Qual é?
Tu acha mesmo bandido
Que ela troca um bom partido
Pra viver com um pangaré?...

...Darei a ela “Mané”
Todo conforto do mundo
Largarei farra e bebida
Não serei mais vagabundo
Viverei só para ela
Não ficarei longe dela
Nem que seja um só segundo.

― Mas que papo tão profundo!
Disse Seu Zuzu da venda.
― Joanita, viúva linda
Uma verdadeira prenda
Mas qualquer um que ficar
Com ela só pra avisar,
Espero não se arrependa...

...Aquilo ali é uma emenda
De uma cobra cascavel
Com tudo de mais ruim
Que Deus expulsou do céu
Compadre Bira coitado
Comeu o pão amassado
Com café “doce” com fel...

...Vivia aos “embolel”
Nas mãos daquela malvada
Todo dia uma briga
Que aquela desgramada
Arrumava sem razão
Morreu de uma depressão
Dessas bem acentuada...

...É bichinha malcriada
Magra, tísica de ruindade
Depois que ele morreu
Encheu-se de vaidade
Agora fica andando
Bem vestida, se mostrando
Para os homens da cidade...

...E vocês nessa idade
Não perceberam ainda
Que ao se envolver com ela
A vida do homem finda
Homem deixem de bobagem!
Que aquela é uma passagem!
De ida, mas não tem vinda.

E Amadeu: ― Coisa linda
Essa sua conversinha!
Tá vendo não vou deixar
Viver só essa gracinha!
Mesmo não dando mais rima
Tá aqui quem vai dar em cima
De Joanita a viuvinha...

...Ela será toda minha
Você queira ou não queira
Zé de Nena, escuta homem
Larga dessa ciumeira!
Vou ali um estantinho
Fica na tua quietinho
Por favor não faz besteira!

Saiu em toda carreira
Como quem evita briga
E Zé de Nena falando:
― Eu não gosto de intriga
Mas ainda veio na telha
De eu socar a orelha
Do filho de rapariga.

― Isso é pabulagem antiga
De Amadeu Zé de Nena!
Joanita quer cara de
Personalidade amena
Pra depois nele montar
E em seguida maltratar
Sem ter um pingo de pena...

...Aquela gota serena,
Continuou Seu Zuzu
Pelo que conheço ela
Vai preferir é a tu
Toma cuidado rapaz
Pois o melhor que tu faz
É não provar desse angu.

Zé tomou outra Pitú
E saiu desaprumado
Seu Zuzu ficou pensando:
― Pense em dois desgraçado!
Se não mudarem de ideia
Ou um ou outro se “reia”
Vai acabar enterrado.


Um comentário:

  1. Que texto maravilhoso! Quando o lemos não sentimos cansaço. Cada verso desce suavemente e é absolvido ligeiramente pelos nosso cérebro. Uma boa dose de cultura aqui nesse blog. Parabéns aos poetas!

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