Eu nasci na
cidade de Montanhas
No Estado do
Rio Grande do norte
Potiguar
nordestino, um cabra forte
E dotado de
algumas artimanhas
Saudosista
que sou farei campanhas
Pra deixar
sempre viva na memória
Nossa vida e
a nossa trajetória
Pois entendo
é assim que tem que ser
Para acesa
essa chama então manter
E escrever nossa
valente história.
Me criei lá
na Rua São Vicente
Mais pra lá
da tal porteira da Lapa
Desde quando
não aguentava um tapa
Até quando
era quase adolescente
Muitas
coisas vivi e guardo na mente
Outras mais
o tempo se encarregou
De deixar no
passado e lá guardou
Como joia,
um tesouro escondido
Para ser
pouco a pouco extraído
Abrir esse
baú agora eu vou.
O meu pai
Pedro Firmino Moreira
Minha mãe a
linda Dona Ivonete
Um casal que
um banho de confete
Eu daria a
minha vida inteira
Ela era uma
grande costureira
Ele era um
grande construtor
E também na
função de agricultor
Batalharam,
criaram todos seus
Nove filhos
com a ajuda de Deus
Com carinho,
apreço e muito amor.
Nossa casa
era uma das menores
Das mais
simples de toda vizinhança
Tenho claro
aqui na minha lembrança
Bem em
frente tinha uma das maiores
De Joel “preto”
que ali nos arredores
Tinha a fama
de ser cabra endinheirado
E era mesmo
já que era aposentado
Pela empresa
de trem a tal REFESA
Homem bom
desses que o outro presa
Quando trata
e também é bem tratado.
E do lado
direito quem morava
Era a Dona
Saudosa Rita Elias
Uma senhora
de muitas regalias
E que toda
vizinhança adorava
Como dela eu
pouco me lembrava
Perguntei
sobre ela aos meus pais
O que ouvi
deles eu gostei demais
Vizinhança
igual hoje é coisa rara
Só tomara
meu Deus, meu Deus tomara
Que dona
Rita Elias descanse em paz.
Como toda
família pobre a gente
Muitas vezes
não tinha o que comer
Era hora
então de recorrer
Ao vizinho,
o mais benevolente
Então esse
vizinho lá da frente
Era sempre um
dos mais requisitado
O meu pai lhe
pedia emprestado
Uns trocados
e logo ia comprar
Alimento pra
nos alimentar
Pra ficar
com o bucho bem forrado.
E a Dona
“Cicia” à direita
Completava o
círculo vizinhal
Para nós
existia um só quintal
Onde todos
querendo se ajeita
Muitas vezes
quando a comida feita
Nos chamava
e nós íamos comer
Era feita
uma mãe só ver pra crer
Dela recordo
com grande carinho
Se falhou
conosco foi só um pouquinho
Se falhou
conosco não foi por querer.
São Vicente
era uma rua pacata
Diversão
porem lá nunca faltava
Tinha o Zé
de Dico que tocava
Na sanfona
foi sempre um diplomata
Tinha a “Pé
de Ouro e a “Pé de Prata”
Que eram as
“Pé de Valsa” do lugar
Tinha festa também
para rezar
A festança
da Santa Terezinha
Quando a
gente formava uma turminha
Pra vareta
de fogos ir buscar.
Tinha a
festa de Cosme e Damião
Dona Dico
Lelê é quem fazia
Para nós um
momento de magia
Uma grande e
pura diversão
Tinha balas
e doces de montão
Que eram
dados pra toda a criançada
E depois
toda aquela meninada
Com seus
pais voltavam para o seu lar
E passavam
um ano a esperar
Em setembro
a data mais esperada.
Em Luiz de
Joel o João Redondo
Vez em
quando era a nossa diversão
“Laro Doido”
fazia exibição
Era sempre
seu show grande estrondo
Quando todos
seu truques ia expondo:
- O “Atita Maueta” vai beber
Um copo de
veneno e não morrer;
E também
engolir metros de fita.
Traga os
tamboretes pro “Atita”
Todos eles
no dente suspender.
Lá em Neco
do Rego o Boi de Reis
Era outra
nobre manifestação
Vinha gente
do toda a região
Gente
simples também algum burguês
Dessa arte
até hoje sou freguês
Pois com ela
aprendi valorizar
A riqueza, a
cultura do lugar
Tudo aquilo
que é vindo do povo
Aproveito para
dizer de novo
Vamos nossa
cultura preservar.
Também a
cantoria de viola
Tinha lá nas
festanças dessa rua
Essa arte
até hoje em mim atua
Funciona
assim tal como escola
Desde quando
era ainda criançola
Que eu ouvia
e lia o cordel
Via no
violeiro o menestrel
Musicando
romances, aventuras
Criador e
também as criaturas
Coisas más e
também as lá do céu.
Muita coisa
ainda tenho pra contar
Mas me falha
um pouco a lembrança
Além do mais
eu só era uma criança
Então peço
pra essa falha descontar
Mas prometo
que vou me concentrar
E puxar
muito mais da minha mente
Contarei pra
você mais lá na frente
Pois agora
eu tenho que me conter
Me disperso
no entanto a dizer:
Que saudade
da Rua São Vicente.
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