quarta-feira, 13 de novembro de 2013

MINHA VIDA EM PROVÉRBIOS

Autor: Serginho Gommes

                      I
Em um dilema profundo
Meu pai dizia assim:
- Cada cabeça é um mundo
- Bote uma dose pra mim
Seu Chico sempre botava
E o meu pai emborcava
Fazendo uma cara feia
Nesse rojão ele ia
E no decorrer do dia
Bebia garrafa e meia
                II
Eu cresci vendo meu pai
Bebendo constantemente
Da minha mente não sai
Uma cena comovente
Vê o povo comentando
Por onde eu ia passando
- Nesse aí... Não boto fé
- Espero que não se queixe
- Pois sendo filho de peixe
- Eu sei que peixinho é
                III
Ora! Sequer eu bebia
Porém senti-me ofendido
Portanto ninguém devia
Espatifar meu ouvido
Meu pai que tava calado
Mas era bem desbocado
Quis ensaiar um acorde
Então eu observei
Também ali confirmei
Que cão que late não morde
                 IV
Como eu era arrogante
Às vezes exagerado
Num tom bem deselegante
Gritei ali emburrado:
- Não sei que mal cometi
- Por isso saiam daqui
- Aqueles quem atrapalho
- Já tão enchendo meu saco
- Portanto cada macaco
- Vá procurar o seu galho
              V
Ainda falei irado:
- As aparências enganam
- O meu pai é viciado
- Mas não sei por que me chamam
Um cabra disse: - Pensei
- Desculpe se me enganei
Não contei e dei um murro
Fiz ele açoitar lá fora
E eu disse na mesma hora:
- De pensar morreu o burro
                   VI
Depois daquele episódio
Vi aquele mutirão
Expressando muito ódio
Vindo em minha direção
Senti a zorba melada
Quando a rapaziada
Me chamou de atrevido
- Palhaço! Agora espere
- Pois quem com o ferro fere
- Com o ferro será ferido
                VII
Eu tremia de verdade
E disse – Calma! Sem mágoa
- Pra que fazer tempestade
- Apenas num copo d’água
Nem deu tempo eu me calar
Começaram a me espancar
Não fiz sequer uma prece
Fiquei numa tristeza imensa
Quando a cabeça não pensa
Senti que o corpo padece
                 VIII
Meu castigo foi bem forte
Me jogaram na parede
Passei ali umas horas
Gritando: - estou com sede...
E um sujeito sacana
Botou dez copos de cana
Pense num sujeito chato
Me fez beber na pressão
Dizendo quem não tem cão
Às vezes caça com gato
                   IX
Num ato de crueldade
Bebi um copo e chorei
Chamei alguns de covarde
E um deboche escutei:
- Água mole em pedra dura
- Tanto bate até que fura
- Viva o rei que virou sapo
- Traz outra dose irmão
- Porque é de grão em grão
- Que a galinha enche o papo
                      X
Eu só pensava em desgraça
Bem no meu interior
Dizendo: - Um dia é da caça
- E outro do caçador
Estava tão revoltado
Que quando fiquei chapado
Mesmo ainda em pé
Eu soltei uma piada:
- Me solta logo cambada
- Quem avisa amigo é
                  XI
De dez copos, bebi oito
E disse: - Não quero mais
Já estava bem afoito
Ficando bebo demais
E dei uma gargalhada
Que um desses camaradas
Na garganta deu um nó
Gritou: - é o penúltimo
E saiba quem rir por último
É mesmo que rir melhor
                 XII
Depois de a cana acabar
Confesso não aguentei
Cheguei até vomitar
E minha roupa eu sujei
Em seguida fui liberto
E num futuro incerto
Vendo a morte, o mal, a fome...
Já dizia meu colega:
- Se correr o bicho pega
- Se ficar o bicho come
                XIII
Pensando nisso: fiquei
Só acordei noutro dia
Pra minha casa voltei
Com grande melancolia
Não sei o que aconteceu
Se alguém me protegeu
Quando eu caí no sono
Mas fico angustiado
Quando escuto o ditado
“Cu de bebo não tem dono”

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