domingo, 1 de dezembro de 2013

O CICLO

(Pedro Pedreira)

 

Se levantem meninos! Tá na hora!
Já gritava o pai logo cedinho.
Vão pra mesa tomar um cafezinho!
Que o momento é da gente ir embora
Se ajeitem! Ora deixem de demora!
Que os outros estão nos esperando.
Cuidem! Cuidem! Que hora tá passando!
Já faz tempo que o dia amanheceu.
Ora essa! O que foi que aconteceu,
Pra vocês estarem se atrasando?

O primeiro responde: é que a gente
Dormiu ontem à noite muito tarde
Ainda mais Zé ficou fazendo alarde
Com uns cão de “mungango” em nossa frente
Parecia todinho um demente
Com dancinha, reboladas e careta
Igualzinho a imagem do capeta
Não deixou ninguém ficar sossegado
Esse cara ou estava abestado
Ou estava com a “bixiga preta”.

Num retruque repentino grita Zé:
Abestado é você, Oh! Seu jumento!
Infeliz! Desgraçado! Seu nojento!
Não atoa tem o nome de Mané.
Mané besta, Mané bobo, Batoré.
Foi você que não deixou ninguém dormir
Como um otário não parava de rir
Parecia um cavalo relinchando
E agora você a mim tá culpando
É melhor sua culpa assumir.

Diz o pai vamos já parar com isso
Eu não quero saber de quem a culpa
Um ao outro vamos lá, peçam desculpa!
Vamos logo cumprir o compromisso
Vão tomar o café e depois disso
Peguem a foice, a enxada e a cabaça
Também peguem o material de caça
Porque pode pintar algo pra matar
Nessa hora é melhor aproveitar
Ou o bicho evapora igual fumaça.
 
E assim com o café já tomado
Tudo pronto seguia-se o destino
De manhã com Sol frio ao Sol a pino
Todos estavam no serviço pegado
Era broca, limpa e planta de roçado.
Macaxeira, mandioca e feijão,
Jerimum, a batata, o algodão,
Melancia, melão e gergelim,
O cabaço, o maxixe, amendoim,
Fava e milho pra festa de São João.

Quando a hora da boia era chegada
Se abrigavam debaixo do juazeiro
E depois de tirado um eito inteiro
Se sentavam pra dar uma descansada
Em seguida a boia compartilhada
Entre todos mais ou menos o mesmo tanto
O feijão e a farinha em um canto
Em um outro voador ou charque dura
Um “taquim” pequeno de rapadura
E um golinho da cabaça num recanto.

Quando a boia no bucho se assentava
Era hora de retomar a labuta
Contra o Sol e o cansaço era uma luta
Parecia que a hora não passava
Num instante que a enxada parava
Grita o pai: o que fez vocês parar!?
Para ver não precisa nem mostrar
Que ainda falta muito pra fazer
Então lembrem que para ter um lazer
É primeiro preciso trabalhar!

Nisso dava uma hora, duas, três
Quando dava quatro aí quanta alegria
Pra debaixo do juazeiro corria
Pra juntar todas as coisas de uma vez
Ação feita com grande rapidez
E o caminho de volta já trilhava
A espingarda atenta sempre estava
Para caça daquilo que pintar
Se mexeu só bastava atirar
Pro jantar a mistura se levava.

Nesse dia não pintou nenhum caçado
E chegaram em casa logo cedo
Lá na mata o verde do arvoredo
Contrastava com o céu avermelhado
Todo mundo exausto e cansado
Para o banho depois para a mesa
Bem no centro uma lamparina acesa
E uns pratos de comida bem pouquinha
Em seguida uma xícara bem quentinha
De café com o tom de sobremesa.

Terminando o jantar se recolhiam
Cada um pro seu canto de dormir
E o ciclo voltava a se repetir
Hora única em que se divertiam
O pai e a mãe rapidinho se cobriam
Em silêncio para não serem escutados
Mas os filhos apesar de bem cansados
Iniciavam a sessão de brincadeiras
Tome risos, dancinhas e besteiras
Em mais um dia da família completado.


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