(Benildo Nery)
Conheci Zé
do Arisco
Pras bandas
de Caicó
Um cabra
grande figura
Curtia farra
e forró
Onde havia um estava
Mas algo lhe
aperreava
Zé nunca
teve um xodó.
Teve uma
infância difícil
Pela sua mãe
criado.
Trabalhava todo
dia
Em um pequeno
roçado
Que perto a casa
ficava
E ali ainda
criava
Umas cabeças
de gado.
Também
criava galinha
Pato, peru e
guiné
Uns porcos,
alguns cabritos
E um cavalo
pangaré
Que comprou
do tio João
Pra servir
de condução
Pra não ir à
rua a pé.
Por viver
muito ocupado
Escola não
frequentava
Mesmo assim
aprendeu
Palavrinhas
soletrava
As quatro
operações
Em várias
ocasiões
Ele sempre
calculava.
Era um
sujeito esperto
Querido na
região
Desde o
Sítio Lageiro
Até o Sítio
Grotão
Dos cantos
mais afastados
Ariscos,
secos, molhados
Ao seu
humilde rincão
De vez
enquanto saia
Para uma
biritada
Mas sempre
coisa pouquinha
Nunca coisa
exagerada
Por ter um
pouco de medo
Pra casa
voltava cedo
Antes da
noite findada.
No dia que
ia sair
Pra essa tal
biritada
Adiantava o
serviço
A comida era
botada
Paro os
bichos que criava
Sua mãe
observava
Até a sua
chegada.
Dançava,
tomava umas
Com um ou
outro amigo
Sempre com
muita cautela
Por ter
horror de perigo
As moças
observava
Mas Zé nunca
as chamava
Pra que dançasse
consigo.
Ele mesmo
não entendia
O porquê
dessa quizila
Não era uma
cabra feio
Nem dos mais
pobres da vila
Mas lhe dava
tremedeira
E uma enorme
suadeira
Se pra
dançar fosse à fila.
Não
conseguia sequer
Uma palavra
esboçar
Ficava todo
nervoso
Com os
braços a balançar
E as pernas
bambeando
Então logo
ia sentando
Para poder
relaxar.
Essa era a
sua rotina
Zé acostumou-se
assim
Vivendo com
sua mãe
Lá no Sitio
Bom Jardim
Mas vez em
quando a pensar:
Eu tenho que
arranjar
Uma mulher
para mim!
Mas a morte
que já tinha
Lhe tirado o
seu pai
Outra vez
com o seu peso
Sobre o seu
ombro recai
Sua mãe e
companheira
Suspira a
vez derradeira
E pra outra
vida vai.
E agora Deus
do Céu?
Me diga o
que fazer!
Nesse mundo
assim sozinho
Como é que
eu que vou viver?
Tenho que me
organizar
Pois eu não
vou aguentar
Viver nesse
padecer!
Tenho que
tomar um rumo!
Revirou a
sua mente
Sempre tendo
como foco
O que viria
pela frente
O sítio pôs
pra vender
Pra na
cidade ir viver
De forma bem
diferente.
Não demorou
muito não
Vendeu a sua
terrinha
Os objetos
rurais
E as
criações que tinha
Com o
dinheiro recebido
E pelo sonho
atraído
Rumou pra
nova vidinha.
Com o
dinheiro do sítio
Comprou logo
uma casinha
Numa rua
principal
Bem pertinho
da pracinha
Também
comprou a mobília
Na loja de
Dona Emília
Pagou de uma
vez todinha.
No começo
estranhou
A vida de
novidade
Não estava
acostumado
Nunca morou
na cidade
Em contado
com uma prima
Aos poucos
entrou no clima
Mergulhou na
vaidade.
Mudou o
estilo de roupa
E o jeito de
andar
Novo corte de
cabelo
O jeito de se
comportar
Zé agora era
o tal
Mas faltava
o principal
Uma mulher
pra casar.
Começou a
frequentar
Um clube ali
da cidade
Todo final
de semana
Com grande
assiduidade
Nova amizade
arrumou
E pensava
assim: estou
Rumando a
felicidade.
Mas uma
coisa ainda
Permanecia
igual
Apesar de
muito esforço
E uma força
brutal
Seu tremor
continuava
Quando em
mulher encostava
Começava a
passar mal
Vale lembrar
que a rotina
Muito
passava a custar
Era grande a
gastança
Que ele
tinha que bancar
Como grana
não é pasto
A sua com
tanto gasto
Começou a se
acabar.
Em pouco
tempo acabou-se
Toda a sua
herança
Tudo o que
tinha guardado
Em casa e na
poupança
Já perdendo
a autoestima
Foi buscar
na sua prima
Outro fio de
esperança.
Sua prima
Jovenice
Tinha uma confecção
Lá nos
fundos, funcionava
Em um
pequeno galpão
E por tá
necessitado
Zé passou a
empregado
Teve o
primeiro patrão.
Todos os
sonhos de Zé
Pareciam encerrado
Ele sempre
independente
Agora um mero
empregado
Mas não fez
pouco da sorte
E por ser um
cabra forte
Cedinho tava
pegado.
Antes dos
outros chegarem
Tudo Zé já ajeitava
Linhas,
fazendas, botões
Tudo, tudo
organizava
Mobília e
equipamentos
E outros mais
implementos
Ele muito
bem zelava.
Jovenice
também tinha
Na frente de
onde morava
Uma loja
onde vendia
Tudo quanto
fabricava
E outras
mercadorias
E na semana
dois dias
Zé também lá
arrumava.
Um dia
chegou mais cedo
Bem mais que
o habitual
Já ia se preparando
Para arrumar
o local
De um susto
estatelou-se
Foi quando ele
deparou-se
Com algo fenomenal
Um e oitenta
mais ou menos
Possuía de
altura
Os peitos
bem redodinhos
Bem fininha
a cintura
Usava uma peruca
Curtinha que
via a nuca
Que mais
linda criatura.
Usava uma
roupa simples
Camiseta e
shortinho
A camiseta
transparente
E o short
bem curtinho
E Zé por ser
bem esperto
Se encostou,
olhou de perto
E lhe mandou
um beijinho.
Ela era
muito séria
Com os olhos
a lhe fitar
Um olhar tão
poderoso
Zé deixou-se
se levar
Sem sentir nenhum
tremor
Sentiu no
peito o amor
Deixou-se se
apaixonar.
Não dizia
uma palavra
Sempre de
boca fechada
Não comia,
não bebia
Não reclamava
de nada
E Zé sempre
do seu lado
Lhe enchendo
de agrado
Zelando a
sua amada.
Daí em
diante a vida
Dele se
modificou
Por entender
que o dia
Tão esperado
chegou
Estava tão
animado
Gritando pra
todo lado
Que um xodó
encontrou.
Já não fazia mais nada
Das suas obrigações
Jovenice observando
As sua novas ações
Resolveu naquela hora
Mandar o Zé dar o fora
Das suas instalações.
O Zé então decidiu
Por em prática outro plano
Juntou o que tinha ganho
Como salário no ano
Sabia não ia dar
Mais tinha pra completar
Viveria igual cigano.
Vendeu tudo
o quanto tinha
Pegou sua
namorada
tratou com a
sua prima
E com as
contas acertada
Pois suas
coisas na mala
E saiu feito
uma bala
No mundo
cortando estrada.
Onde ele
anda hoje
Ninguém pergunte
pra mim
Se ele ainda
é vivo
Ou se talvez
levou fim
Mais uma
coisa é incerta
Foi viver
uma vida certa
Com uma
diaba manequim.
Conheci Zé do Arisco
O Zé então decidiu
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós. Deixe seu comentário criticando ou dando sugestões.